Resumo: | A inflamação é um processo indispensável para permitir o retorno à homeostasia dos tecidos após uma determinada lesão. Os processos inflamatórios encontram-se associados a várias condições de doença, sendo um dos principais fatores associados à morbilidade e mortalidade das patologias. Por sua vez, os fosfolípidos têm sido cada vez mais associados a processos inflamatórios, pelo que alterações no seu perfil poderão estar relacionados com alterações no processo inflamatório. Assim, o objetivo geral deste trabalho centrou-se na identificação e quantificação de alterações no perfil de fosfolípidos induzido pela inflamação em modelos in vivo, no lúpus eritematoso sistémico, e em modelos in vitro, em células de monócitos THP-1, através de uma abordagem lipidómica. O lúpus eritematoso sistémico é uma doença autoimune de natureza inflamatória marcada por fases de remissão e recaída. Contudo, ainda não existe um meio de diagnóstico eficiente de forma a prever atempadamente o ciclo desta doença. Os extratos lipídicos de plasma foram analisados por TLC, observando-se diferenças significativas nas classes de fosfolípidos PC, LPC e PS. A análise dos ácidos gordos por GC-MS demonstrou alterações significativas nos ácidos gordos C16:0 e C22:6. Pela análise estatística multivariada e discriminante aplicada aos resultados obtidos por HPLC-MS e MS/MS observaram-se diferenças significativas nas classes PC, LPC e PE. Desta forma, estas classes sofrem alterações significativas de acordo com a fase em que a patologia se encontra, fase de remissão ou fase de recaída. A abordagem lipidómica permitiu, assim, distinguir entre os dois fenótipos da doença, sendo estes caracterizados por alterações nas classes de fosfolípidos mencionadas. Para avaliar as adaptações à resposta inflamatória in vitro recorre-se a linhas celulares de células do sistema imune, como os macrófagos ou monócitos. Estas células foram tratadas com LPS, um indutor de stresse inflamatório, e com tunicamicina, um indutor do stresse do retículo endoplasmático. Por TLC observaram-se alterações significativas nas classes de fosfolípidos PE e PG, e pela análise de ácidos gordos observaram-se diferenças significativas nos ácidos gordos C16:1-cis, C18:0, C20:2 e C22:6. Por sua vez, a análise estatística multivariada e discriminante dos resultados obtidos pela técnica de HPLC/MS e MS/MS permitiu verificar que as classes PC, PI, PE e PS são aquelas que mais contribuem para a distinção entre os dois tipos de stresse. Assim, a metodologia aplicada permitiu verificar que o perfil lipídico das células se altera consoante a natureza do estímulo inflamatório. Palavras-chave Resumo Concluindo, a abordagem lipidómica aplicada neste trabalho demonstrou ser eficaz na análise e identificação das classes de fosfolípidos das condições estudadas, sendo possível distinguir entre cada uma das condições em ambos os estudos realizados. Assim, o estudo lipidómico permitiu uma melhor compreensão dos processos fisiopatológicos envolvidos no processo inflamatório do lúpus e das células. Este facto poderá ser utilizado como forma de diagnóstico e tratamento, permitindo atuar antes do agravamento dos sintomas associados aos processos inflamatórios.
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