Summary: | Introdução: Os cuidados paliativos estão em desenvolvimento no nosso país enquanto resposta holística e interdisciplinar aos doentes e às suas famílias, sendo fornecidos não só em contexto hospitalar, como a nível comunitário. Considerados essenciais num sistema de saúde de qualidade, devem ser prestados, na continuidade dos cuidados de saúde, a todas as pessoas com doenças graves e/ou avançadas, progressivas e incuráveis que deles necessitem, qualquer que seja o seu diagnóstico, a sua idade e onde quer que se encontrem. A referenciação precoce para estes cuidados traz benefícios, diminuindo a carga sintomática dos doentes e prevenindo o desgaste de familiares/cuidadores. Objetivos: Analisar e caracterizar a evolução da referenciação à Equipa de Cuidados Paliativos da Unidade Local de Saúde da Guarda desde o início da sua atividade, através da descrição sociodemográfica e clínica da população referenciada, bem como da quantificação do tempo de sobrevivência, identificando os fatores que o influenciam. Materiais e Métodos: Estudo observacional e descritivo, através da análise retrospetiva dos processos clínicos dos doentes referenciados à Equipa de Cuidados Paliativos da Unidade Local de Saúde da Guarda. A população é constituída por todos os doentes referenciados à equipa desde a sua criação, em abril de 2017, até agosto de 2018. Foram analisadas variáveis sociodemográficas, clínicas e relativas à referenciação. A codificação, registo e análise estatística dos dados foi realizada através do programa SPSS® v24.0. Nas inferências, considerou-se o nível de significância de 5%. Resultados: A referenciação à equipa de cuidados paliativos da Unidade Local de Saúde da Guarda cresceu, em média, 18,1%/mês, com o método de referenciação automático a ser o mais utilizado (63,8%). Os doentes referenciados eram maioritariamente oncológicos (84,5%), do sexo masculino (56,1%), casados (59,5%) e com cuidador informal (63,8%), apresentando uma mediana de idades de 79,0 anos. Os motivos de referenciação variaram entre 1 e 7, com 1 motivo a ser o mais prevalente (43,1%); outros sintomas não controlados foi o motivo mais assinalado (21,3%). A maioria dos doentes foi referenciada pelo Hospital Sousa Martins (80,6%), com o serviço de urgência a ter o maior número de referenciações (26,3%). Em geral, os doentes foram referenciados na fase final da doença, com 3,8% a falecerem até 1 dia após a referenciação e 29,7% a falecerem até 7 dias. A mediana de sobrevivência foi de 15 dias, com os doentes seguidos nas Unidades de Cuidados Continuados e Integrados (10,6%) a apresentarem uma mediana de tempo superior (69,0 dias); já os doentes internados e seguidos pela Equipa Intra-Hospitalar de Suporte em Cuidados Paliativos (22,4%) apresentaram a mediana de sobrevivência de 5,0 dias. A mediana do tempo de espera pela avaliação da equipa de cuidados paliativos foi de 1,5 dias, sendo este condicionado pela entidade referenciadora [os doentes referenciados pelos cuidados de saúde primários apresentaram uma mediana de tempo superior (5,0 dias) e os doentes referenciados pelo Hospital Sousa Martins apresentaram a mediana de tempo inferior (1,0 dias)]. Conclusão: A população pertencente à Unidade Local de Saúde da Guarda tem a possibilidade de acesso a todas as valências dos cuidados paliativos, tendo-se observado um crescimento na referenciação à equipa. No entanto, e apesar da crescente evidência benéfica do encaminhamento precoce, este é, em geral, tardio, tendo em conta a trajetória natural da doença. O local de cuidado e de morte mostrou-se influente no tempo de sobrevivência dos doentes referenciados.
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