Resumo: | A Península Ibérica tem sido reconhecida como um hot spot de diversidade e endemismos de numerosas espécies de plantas e animais, e a abelha melífera (Apis mellifera L.) não é excepção. A abelha melífera ocorre naturalmente na Europa, África e Médio Oriente. Nesta vasta área geográfica, a adaptação às diversas condições ecológicas levou à evolução de 30 subespécies, as quais têm sido tipicamente agrupadas em 4 linhagens evolutivas (A, M, C e O). A Península Ibérica alberga duas dessas linhagens (A e M) e a maior diversidade genética materna e complexidade em toda a Europa. A representação dos padrões de diversidade genética, e dissecação das forças evolutivas que têm moldado esses padrões, tem sido um dos objectivos de numerosos estudos genéticos e uma meta cada vez mais importante num contexto de crescentes ameaças às populações de abelhas. Porém, apesar dos inúmeros estudos conduzidos nas últimas décadas na Península Ibérica, o debate sobre a história evolutiva da abelha ibérica está ainda por resolver. De facto, a grande variedade de marcadores genéticos (morfologia, alozimas, ADN mitocondrial, microsatélites) que tem sido utilizada nestes estudos tem revelado padrões incongruentes de diversidade fazendo da abelha ibérica a mais complexa subespécie na ampla área de distribuição geográfica da Apis mellifera. Nesta palestra irei apresentar os vários cenários da história evolutiva da abelha ibérica reconstruídos a partir de diferentes marcadores genéticos. Depois de sumarizar o estado da arte apresentarei os resultados mais relevantes de um estudo que temos em curso. Este estudo proporcionará a caracterização mais completa da abelha ibérica jamais realizada através de uma amostragem de elevada resolução quer a nível geográfico quer a nível do genoma da abelha ibérica. Neste estudo estão a utilizar-se simultaneamente marcadores mitocondriais (sequências da região intergénica tRNAleu-cox2) e nucleares (cerca de 400 SNPs, “single nucleotide polymorphism”) e avançadas ferramentas moleculares e analíticas numa colecção de 711 colónias amostradas recentemente ao longo de três transeptos ibéricos (costa Atlântica, região central e costa Mediterrânica). Os resultados que apresentarei incluem: (i) o padrão geográfico de diversidade mitocondrial e nuclear, (ii) o scan genómico que revela as regiões do genoma que emitem um forte sinal de selecção e que parecem estar envolvidas na adaptação da abelha ibérica ao meio ambiente, (iii) o grau de introgressão de abelhas exóticas (A. m. ligustica, A. m. carnica) no genoma da abelha ibérica. Concluirei a palestra discutindo o que aprendemos até agora e o que ainda falta aprender sobre a história daquela que é talvez a mais enigmática subespécie de abelha melífera.
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