Summary: | A arte românica portuguesa acolhe um conjunto considerável representações monstruosas, onde se incluem não só as bestas apocalípticas e as entidades demoníacas, como alguns dos seres fantásticos que fascinaram os antepassados pagãos, nomeadamente sereias, harpias, centauros e grifos. Estes seres foram absorvidos pelo imaginário medieval, deixando para trás as suas identidades primitivas e reaparecendo como símbolos moralizantes que formam uma concepção alegórica do universo. Para uma leitura completa destas figuras, é necessário ir para além da contextualização dos respectivos âmbitos de produção, pois os seus significados remontam à génese da monstruosidade cristã e à interpretação criacionista do passado profano. Por sua vez, a imagética apocalíptica foi impulsionada pela circulação dos beatos moçárabes. Datado de 1189, o Apocalipse do Lorvão é um beato tardio que retoma a linguagem do moçarabismo, oferecendo uma privilegiada narrativa visual do Juízo Final. A iluminura portuguesa conserva ainda diversas letras zoomórficas, algumas das quais contendo monstros e seres míticos. A investigação que se segue procura decifrar a monstruosidade da arte românica portuguesa, estabelecendo não só a relação entre a figura do monstro com o espaço onde se afigura, mas também com as fontes de onde provêm os seus significados.
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