Resumo: | Os últimos 40 anos testemunharam um progresso notável na prevenção e tratamento do VIH (Vírus da Imunodeficiência Humana) e Sida (síndrome da imunodeficiência adquirida). No entanto, as respostas globais à pandemia de COVID-19 expuseram e agravaram as desigualdades na saúde global, com graves implicações na saúde sexual e no bem estar das populações. Durante a fase pandémica, houve uma menor resposta dos serviços de saúde pública direcionados para a prevenção, diagnóstico e tratamento das Infeções Sexualmente Transmissíveis (ISTs), particularmente o VIH e Sida. Nesta fase, quando comparada com períodos anteriores, houve diminuição da testagem do VIH em pessoas sem sintomas, redução na prescrição médica de profilaxia pós-exposição ao VIH, bem como a descontinuação da terapêutica preventiva. A pandemia teve também impacto na cadeia de fornecimento de medicamentos e produtos essenciais à prevenção, incluindo antirretrovirais e outros medicamentos, causando dificuldades no acesso a testes de diagnóstico destas doenças. Esta situação é mais grave em pessoas mais vulneráveis. De facto, a pandemia pôs a descoberto desigualdades, já há muito conhecidas, evidenciando aspetos estruturais da transmissão do VIH que importa superar. O Centro de Controlo e Prevenção de Doenças (CDC) tem revelado que as pessoas que vivem com VIH e Sida têm mais complicações resultantes da infeção com COVID-19, maior probabilidade de internamento hospitalar e mais risco de morrerem. A Organização das Nações Unidas (ONU) tem alertado para o menor acesso das pessoas com VIH e Sida a vacinas contra a COVID-19. Segundo a mesma organização, mais de metade das pessoas infetadas como o VIH vivem em países com desenvolvimento económico precário, que são também os que têm menor taxa de vacinação contra a COVID-19. Em 2021, a Food and Drug Administration (FDA) aprovou a vacina Pfizer-BioNTech (Comirnaty) COVID-19 para pessoas infetadas com VIH, com idades superiores a 16 anos. E nesta sequência, alguns países consideram, hoje, as pessoas com VIH e Sida como um grupo prioritário para a vacinação. Toda a literatura na área alerta para a necessidade de melhorar o planeamento em saúde pública, planeamento este que deve ser sustentado por estudos de populações consideradas minorias sexuais ou étnicas, que permitam compreender o comportamento sexual e garantir estratégias que combatam as desigualdades no acesso à saúde, de forma a promover o acesso a cuidados de saúde de alta qualidade, durante e após a resposta à COVID-19. A Joint United Nations Programme on HIV/AIDS (UNAIDS), tem alertado para que se não forem tomadas medidas que minimizem estas desigualdades no acesso a cuidados de saúde, o mundo continuará inapto para a resposta a futuras pandemias. Só estratégias mais inclusivas e mais capazes de enfrentar estes desafios podem acabar com a epidemia do VIH e Sida. A equipa do projeto "Infeções sexualmente transmissíveis e saúde pública", em desenvolvimento na Escola Superior de Enfermagem de Coimbra, participa na implementação de estratégias de prevenção e de educação contribuindo para o lema da ONU-SIDA: fim às desigualdades, fim à Sida, fim às pandemia!
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