Summary: | Nas suas diferentes formas de culto, a religião continua a ser um importante fator de socialização e de conciliação social. O conjunto de crenças religiosas africanas consolidadas ao longo dos séculos, a presença do Cristianismo e sua adequação às realidades encontradas resultaram numa cultura compósita que, pelas dimensões alcançadas, se tem expandido de uma forma significativa. No contexto em análise, além deste movimento religioso que valoriza a bíblia e a figura de Cristo como centrais nos seus cultos, existem outras formas de culto, como o dos antepassados, numa constelação que, no contexto angolano, envolve a circulação do paciente/devoto entre feiticeiros, quimbandas, santas, igrejas e hospitais. No trabalho que me proponho apresentar, ponho em evidência o quotidiano dos fiéis da Igreja Jesus Cristo Salvador, tendo em conta as suas realizações e constrangimentos na busca de harmonização psicológica e da cura. A frequência e permanência na igreja impõe um conjunto de limitações em termos de consumo excessivo de bebidas alcoólicas, tabaco e prática de relações sexuais com vários parceiros e, simetricamente, reforça a oração com devoção e as deslocações periódicas ao monte para efeitos de purificação e cura. Como parte essencial de integração na igreja destaca-se a reformulação das redes de sociabilidade, pois a concretização e manutenção da crença com base nas interdições acima evocadas só é possível caso a socialização esteja orientada para membros do mesmo corpo doutrinário. Os processos de cura são orientados pelo profeta, pelo apóstolo, pelo pastor ou pelo doutor, os quais realizam uma “corrente de libertação” baseada em atos de exorcismo para motivar os fiéis em relação à possibilidade de cura, combinando este procedimento com outras formas de tratamento (cerimónia de luz; fumaça; oração diária; unção com óleos ou azeite; toma de chás; purificação de residências; peregrinação ao monte) a realizar durante um período de tempo que varia em função da patologia.
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