Resumo: | As sociedades humanas têm ocupado as áreas ribeirinhas, verificando-se um aumento crescente ao longo da história. Por isso, o conhecimento da dinâmica fluvial às diversas escalas a que os processos operam é fundamental para o uso sustentável nestas áreas territoriais. Em termos de configuração morfológica a bacia hidrográfica do rio Neiva é alongada. O Neiva e os seus afluentes formam um padrão de drenagem do tipo retangular com alguns troços do tipo paralelo, influenciada, em termos gerais, pela litologia local e pela direção das fraturas. Ao longo do perfil longitudinal o rio Neiva apresenta diversos tipos de canal, verificando-se a repetição de alguns tipos a partir de Panque, o que coincide com uma rotura de declive importante no perfil longitudinal. O mais frequente é o canal ter leito de cascalho (seixos pequenos e grandes). Na área de cabeceira os controlos dominantes na ação da corrente são o declive do canal e a litologia onde este é modelado. Aí, os blocos no canal possuem sempre alguma matriz com dimensão de seixo e areão. Verifica-se que a percentagem da fração de dimensão areia tende a aumentar para jusante. No estudo da tipologia dos canais usaram-se duas classificações diferentes. Aplicando a proposta por Montgomery & Buffington (1997), no rio Neiva identificam-se canais do tipo A, B, C, D e E. O canal do tipo A (cascade) encontra-se na área próxima da nascente, onde o fluxo é canalizado e corre num canal único mas íngreme e também na zona das Azenhas do Neiva, em regime de fluxo baixo. Em Porrinhoso o canal é do tipo A/B (cascade e step-pool), em Godinhaços e Panque é do tipo B (step-pool). O canal do tipo C (plane-bed) encontra-se em Duas Igrejas e do tipo D (pool-riffle) nos troços de Arcozelo, de Vilar das Almas e de Tregosa. Em Cossourado a classificação atribuída foi do tipo C/D e na zona de Balugães do tipo D/C. Na zona da foz foi classificado como D/E, visto que o leito é arenoso com megaripples e ripples, típicos dos canais do tipo E (dune-ripple), mas, o declive apresentado é frequente nos canais do tipo D assim como as formas não atingem a dimensão de dunas fluviais. A classificação de Rosgen (1994, 1996) não é aplicável ao rio Neiva. Há alguma concordância entre o tipo de canal identificado, segundo os critérios de Rosgen, para a zona da nascente (tipo A) e para as localidades de Porrinhoso e Godinhaços (A/Aa+), com as observações de campo e com os resultados obtidos segundo a classificação de Montgomery & Buffington. Nos outros setores, os valores de entrincheiramento não são consistentes com os restantes critérios. Ainda foi possível obter combinações entre a sinuosidade, largura/profundidade e declive, exceto para os troços observados em Duas Igrejas, Tregosa e Castelo de Neiva. A diversidade morfológica observada no rio Neiva tem valor importante para suporte da biodiversidade, já que, a estrutura dos habitats está intimamente dependente da morfologia e caraterísticas do local, no que diz respeito, por exemplo, à natureza do substrato – rochoso e aluvião. O tipo de estudo apresentado permite compreender a dinâmica do canal à escala espaço-tempo e interpretar os indicadores de estabilidade/instabilidade do canal, de evolução, num curto espaço de tempo. Trata-se de uma abordagem integrada do sistema fluvial, a qual é um suporte para o ordenamento territorial das áreas ribeirinhas, especialmente quando aplicado à gestão ambiental destas.
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