Summary: | Reconhecendo a pertinência e a urgência investigativas das temáticas relacionadas com as políticas linguísticas educativas que o Conselho da Europa (e não só) tem promovido, valorizamos o plurilinguismo, a diversidade linguística e cultural e o diálogo intercultural como elementos essenciais à cidadania democrática e à coesão social nas sociedades do século XXI (cf. Beacco & Byram, 2003). Neste contexto, atribui-se particular importância ao desenvolvimento dos repertórios linguístico-comunicativos dos sujeitos, bem como à promoção das suas competências plurilingue e intercultural (cf. Andrade et al., 2003; Beacco & Byram, 2003, 2007; Byram, 1997), que integram os conhecimentos, as capacidades e as atitudes que devem nortear a interação e a convivência com o Outro. A educação é, assim, desafiada a contribuir, colocando-se em destaque as mais-valias do ensino e aprendizagem de línguas para a concretização destes objetivos. Nesse sentido, e tomando a língua inglesa como foco do nosso estudo - devido ao seu estatuto de língua internacional, à posição privilegiada que lhe é amplamente reconhecida no contexto de ensino e aprendizagem de línguas estrangeiras, em Portugal e um pouco por todo o mundo, e ao facto de ser, em si mesma, uma língua plural e diversa - concebemos um projeto de investigação que visa compreender a relação entre o ensino e aprendizagem desta língua em particular, recorrendo a uma abordagem didática baseada na diversidade intralinguística e cultural que a caracteriza (cf. Kachru, 1995; Schneider, 2011), e o desenvolvimento das competências plurilingue e intercultural dos alunos. Para o efeito, e situando a nossa investigação, de natureza qualitativa, no paradigma interpretativo, desenvolvemos um estudo de caso, com características de investigação-ação. Este estudo organizou-se em duas fases: numa primeira fase, realizámos uma análise do Currículo Nacional do Ensino Básico – Competências Essenciais (Ministério da Educação, 2001) e do Programa e Organização Curricular do Inglês para o 3.º CEB (Ministério da Educação, 1997), documentos que, à data, orientavam o ensino da língua inglesa no 9.º ano de escolaridade, o ano escolhido para a intervenção. Pretendíamos, com esta análise, contextualizar o plano de intervenção didática que viríamos a desenvolver na fase seguinte, identificando o modo como os conceitos basilares do projeto – as competências plurilingue e intercultural e a diversidade intralinguística e cultural da língua inglesa – são aí apresentados. Na segunda fase, procedemos à construção de um plano de intervenção didática e à sua dinamização numa turma do 9.º ano de escolaridade, de uma escola do concelho de Aveiro, na disciplina de Inglês. Este plano consubstanciou-se num conjunto de módulos pedagógico-didáticos que, tendo sido planificados em total articulação com as orientações programáticas e demais planificações para este nível de ensino, foram operacionalizados num total de 16 sessões, ao longo de um ano letivo. As atividades desenvolvidas promoveram o contacto dos alunos com diferentes variedades da língua inglesa (Englishes), sob diferentes formas. Os dados recolhidos durante a implementação deste plano – por meio de gravações áudio e vídeo, da observação participante e de um Portfolio de Turma – foram tratados e analisados segundo os procedimentos da análise de conteúdo, tendo sido definidas três macro categorias de análise que representam as dimensões comuns aos modelos conceptuais das competências plurilingue e intercultural: Conhecimentos, Capacidades e Atitudes. A análise e discussão dos resultados colocou em evidência indícios de que a abordagem didática adotada neste estudo pode, de facto, constituir-se como um ponto de partida para o desenvolvimento destas competências, ao ter proporcionado: i) a expansão e o enriquecimento do conhecimento dos alunos sobre “o mundo das línguas e culturas” e “o mundo da língua inglesa”; ii) o desenvolvimento de capacidades variadas, nomeadamente de natureza metalinguística e metacomunicativa; iii) a tomada de consciência para a importância das línguas e culturas; e iv) a adoção de atitudes de respeito e curiosidade face a variedades da língua inglesa e/ou a outras línguas e culturas, ainda que não tenha sido possível desconstruir algumas das imagens estereotipadas que os alunos revelaram. Face aos resultados e às conclusões obtidas, acreditamos que o nosso estudo terá contribuído para o reconhecimento de que o ensino e aprendizagem da língua inglesa, muitas vezes visto como uma ameaça à preservação da diversidade linguística e cultural, pode, na verdade, incorporar em si essa mesma diversidade. Com efeito, uma abordagem à língua inglesa que englobe a sua diversidade intralinguística e cultural, valorizando as vozes distintas que se expressam através dela, e explore questões globais, pode desempenhar um papel importante no desenvolvimento das competências plurilingue e intercultural dos jovens.
|