Resumo: | A coexistência, no mesmo estabelecimento de ensino, de diversas lógicas formativas a que correspondem distintos públicos escolares, a fragmentação progressiva da organização-escola por via da sua integração em mega-agrupamentos, a intensificação dos mecanismos de regulação sobre os resultados escolares, constituem apenas alguns factores que induziram no tempo profundas alterações nas culturas organizacionais das escolas. Perante a inegável diversidade de culturas e identidades (intra e inter organizacionais) construídas ao longo da trajectória histórica de cada estabelecimento de ensino, preconiza-se uma configuração estrutural assente num único rosto – o Director da escola/agrupamento. Numa altura em que a instituição escola alcança níveis de sofisticação inéditos, entende-se que a solução passará pela implementação de uma liderança unipessoal. Contudo, este novo rosto, erguido paradigma da nova gestão escolar, defronta-se com as múltiplas caras das escolas públicas, cada vez mais mascaradas face à imposição de um modelo de liderança unidimensional. Partindo deste cenário, importa reflectir sobre: i) os traços que têm vindo a institucionalizar um perfil-ideal de liderança escolar; ii) até que ponto a liderança unipessoal servirá (melhor) como veículo de expressão de uma cultura escolar que se pretende reproduzir e sedimentar nos mais diversos universos simbólico-ideológicos das escolas; iii) de que modo o rosto (Director) exercerá um efeito homogeneizador, marcando quadros de interação e lógicas de organização, sobre o quodiano das escolas. Em jeito de reflexão, tentaremos explorar as questões colocadas utilizando como dispositivo metodológico a análise crítica dos Relatórios de Avaliação Externa das Escolas produzidos entre 2006 e 2010. De um total de 984 unidades de gestão avaliadas (escolas e agrupamentos) e de que resultaram igual número de Relatórios de Avaliação, seleccionamos o universo dos 299 Relatórios de escolas não agrupadas e debruçamo-nos sobre os domínios da “organização e gestão escolar” e “liderança”. Mais do que uma análise descritiva e factual das dimensões mais valorizadas nestes documentos, o nosso objectivo prende-se com a apreensão dos modelos implícitos de cultura de escola e de liderança veiculados pela comissão de avaliação e as suas implicações no domínio da reconfiguração do quotidiano das escolas.
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