Resumo: | Introdução Foi presente à consulta uma cadela de 11 meses de idade de raça indeterminada referenciada por outro Centro de Atendimento Médico Veterinário por motivo de abdómen agudo. Na história pregressa verificou-se que existia a suspeita de ingestão de corpo estranho (CE) no dia anterior à consulta, vómito incoercível com 24 horas de duração, dor abdominal e anorexia parcial. Ao exame clínico, registaram-se diversas alterações entre as quais a presença de mucosa oral congestionada, desidratação de 5% e ligeira hipotermia (37,8°C) estando os restantes parâmetros dentro dos limites normais. Na palpação manual da cavidade abdominal detectou-se a presença de uma massa tubular no abdómen médio. Tendo em conta os achados do exame clínico, o paciente foi admitido para exames complementares de diagnóstico por suspeita de obstrução intestinal. Objectivos Os objectivos desta comunicação são a descrição de uma neoplasia intestinal rara num cão jovem como causa de invaginação intestinal. Metodologia Após a obtenção da história pregressa e exame físico realizaram-se diversos exames complementares de diagnóstico que incluiu perfil bioquímico sérico, hemograma, radiologia abdominal simples com projecções latero-lateral e ventro-dorsal. Adicionalmente foi também realizada ecografia abdominal. Resultados O hemograma evidenciou uma leucocitose com neutrofilia e trombocitopenia. No perfil bioquímico sérico realizado os parâmetros estavam dentro dos intervalos de referência para a espécie. Os achados radiológicos evidenciaram a presença de um CE não linear radiopaco na região do abdómen médio e uma massa com radiopacidade de tecido mole com efeito de massa igualmente no abdómen médio. A ecografia abdominal confirmou a presença de obstrução intestinal pela presença de um CE associada a uma invaginação intestinal. Após estabilização pré-cirúrgica, o paciente foi sujeito a laparatomia exploratória, procedimento no qual se confirmou a presença de um CE não linear (um aglomerado de fios de nylon de um esfregão) no jejuno e caudalmente a este uma invaginação jejuno-jejunal. Procedeu-se a desinvaginação e observou-se num segmento da porção jejunal invaginada um espessamento da parede intestinal com estenose do lúmen e com congestão e hemorragia da serosa. Em consequência deste achado realizou-se uma enterectomia do segmento estenosado com uma margem de segurança de 4 cm, seguida de anastomose intestinal topo a topo com padrão de sutura simples interrompida. O CE foi removido pela incisão da enterectomia devido á sua proximidade. Explorou-se a cavidade abdominal e todo o tubo digestivo não se registando alterações macroscópicas adicionais. O segmento intestinal removido foi enviado para análise histopatológica. O diagnóstico histopatológico determinou uma infiltração de células neoplásicas linfóides em toda a espessura da parede intestinal concluindo-se pela presença de um linfoma de Burkitt. A recuperação pós-operatória decorreu sem complicações maiores tendo sido concedido alta ao paciente 4 dias após a cirurgia. Conclusões Os CE, as enterites víricas e parasitárias são causas frequentes de invaginação intestinal em pacientes jovens, no entanto as neoplasias intestinais são a principal causa de invaginação em animais geriátricos1,3. A ocorrência de neoplasia intestinal e especificamente o linfoma de Burkitt nunca foi descrita anteriormente como causa de invaginação intestinal em cão jovem. Referências bibliográficas 1. Schwandt, C.S., (2008). Low-grade or benign intestinal tumours contribute to intussusception: a reporton one feline and two canine cases. Journal of Small Animal Practice, 49, 651 – 654. 2. Radovanović, Z., Slavković, A., Marjanović, Z., Živanović, D., Djordjević, I. (2017). Burkitt lymphoma as a cause of intussusceptions – The significance of positron emission tomography scan in the follow-up. Vojnosanit Pregl. 74(3): 294– 297. 3. Levien, A.S., Baines S.J., (2011). Histological examination of the intestine from dogs and cats with intussusception. Journal of Small Animal Practice, 52 (11):599-606.
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