Resumo: | A problemática das lesões músculo-esqueléticas relacionadas com o trabalho (LMERT) não tem apenas uma dimensão individual, confinada às repercussões geradas na vida pessoal e familiar pela incapacidade do indivíduo lesionado. O impacto na sua vida profissional, quer seja derivado do absentismo por doença ou por perda de capacidade produtiva, vai refletir-se na organização empregadora através dos prejuízos resultantes da perda de produtividade e consequentemente de competitividade, assim como ao nível social através dos custos da assistência médica e dos demais mecanismos de segurança social, pelo que a dimensão deste problema acaba por nos influenciar a todos como sociedade. O envelhecimento da população Portuguesa torna o estudo desta problemática ainda mais urgente, sendo para isso necessário definir estratégias nacionais de prevenção deste tipo de lesões, através de análises e avaliação de riscos abrangentes baseadas em metodologias integradas que permitam aferir os fatores de risco presentes nos locais de trabalho, assim como a interação entre eles. Apresenta-se nesta tese uma proposta de metodologia de identificação de riscos que visa identificar em contexto laboral os fatores de risco que poderão estar na génese das LMERT, de acordo com o conhecimento disponível. Estes poderão ser oriundos da exposição tanto a fatores de risco ergonómicos presentes no local de trabalho como a fatores de risco psicossociais relacionados com o trabalho e por fatores individuais. A metodologia é constituída por um questionário onde foram recolhidas informações sobre os dados sociodemográficos, estilo de vida, saúde músculo-esquelética e fatores psicossociais relacionados com o trabalho, sendo a recolha destas últimas realizadas através da aplicação de ferramentas validadas para a população Portuguesa (Copenhagen Psychosocial Questionnaire e Nordic Musculoskeletal Questionnaire). A metodologia integra ainda uma lista de verificação destinada a guiar a análise dos fatores de ergonomia física no trabalho com computador, desenvolvida pela autora e previamente aplicada em outros contextos laborais diferentes daquele onde se desenvolveu a parte empírica da presente tese. Os dados apresentados nesta tese foram recolhidos num estudo transversal com 96 indivíduos, não tendo este permitido inferir as relações de causalidade para a etiologia das LMERT. Algumas das associações encontradas entre as variáveis relativas aos fatores de risco, indicam que se está perante uma complexidade maior do que o antecipado no que respeita à interação entre fatores de risco, atendendo aos coeficientes de correlação com intensidade forte, mas com sentido contrário, consoante o género, detetados para o mesmo par de variáveis. A prevalência de sintomatologia de LMERT no género feminino referida de forma recorrente na bibliografia científica especializada não se confirmou através da aplicação do instrumento de identificação de fatores de risco na amostra estudada, o que indica que são necessários mais estudos para compreender as razões que estarão na origem desta diferença. As diferenças de associação entre fatores de risco detetadas entre géneros, e as associações negativas inesperadas entre as queixas músculo-esqueléticas e as variáveis relativas à prática de exercício físico e ao índice de massa corporal também carecem de mais análise de modo a compreender as razões subjacentes a esta associação. Recomenda-se a consideração futura de abordagens diferenciadoras nas estratégias de prevenção de LMERT quanto ao género, para aumentar a eficácia da prevenção.
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