Resumo: | A recomplementação tem sido estudada para diversas línguas (principalmente línguas românicas), consistindo na realização, numa mesma oração, de duas instâncias de um mesmo complementador, separadas por um constituinte de natureza variável. Os objetivos gerais desta dissertação são contribuir para os estudos da periferia esquerda da frase com uma descrição mais detalhada das estruturas de recomplementação do português europeu e proporcionar evidência empírica que sirva de base a essa descrição e dê origem a possíveis trabalhos futuros relacionados com o fenómeno. Sigo, desde o início, uma perspetiva cartográfica, dando a conhecer os estudos de Rizzi (1997) e Haegeman (2012), que exploram o sistema CP. É no seguimento destes autores que descrevo o ponto em que se encontram os estudos sobre a Recomplementação em algumas línguas, com foco sobre os estudos de Demonte & Soriano (2007/2009) e Villa-García (2012) para o espanhol. Através dessa descrição, podemos observar que as estruturas de recomplementação envolvem sempre pelo menos dois conetores aparentemente iguais, separados por algum tipo de material periférico que varia de língua para língua. Direcionando-me finalmente para o português europeu, faço uma síntese do que tem sido referido acerca da Recomplementação – nos estudos de Barbosa (2000, 2008), Carrilho (2005) e Mascarenhas (2015) –, chegando através dela a um conjunto de hipóteses a confirmar ou infirmar pelos dados recolhidos e analisados. Tais hipóteses passam pela produtividade do fenómeno na língua, os tipos de conetores com a possibilidade de serem redobrados, o tipo de constituintes que se pode encontrar entre conetores (constituintes mais associados a um valor de tópico vs. constituintes mais associados a um valor de foco) e as possíveis sequências “conetor – constituinte periférico” (i.e. sequências com mais do que dois conetores, sequências com mais do que um constituinte periférico entre conetores ou uma combinação destas duas sequências). A extração e análise quantitativa de dados provenientes do CORDIAL-SIN, do CRPC e do Português Fundamental permitiu-me tirar conclusões sobre algumas das hipóteses formuladas. A Recomplementação é um fenómeno produtivo um pouco por todo o território português. A maioria dos constituintes entre conetores tem propriedades de tópico (com um grande número de ocorrências de tópicos-sujeito e adjuntos), apesar de algumas ocorrências, contra o esperado, apresentarem constituintes quantificados. Por sua vez, apesar de a recomplementação com o complementador que ser a mais produtiva, há indícios de recomplementação com se interrogativo, se condicional e para introdutor de orações adverbiais finais, sendo, ainda assim, fraca a evidência para os dois primeiros. Os padrões de recomplementação disponíveis no português europeu incluem tanto sequências com iteração do que de recomplementação como sequências com múltiplos constituintes entre complementadores e uma combinação de ambas. Verificou-se ainda que a recomplementação pode surgir em contextos de subordinação a nomes. Em termos gerais, os dados favorecem uma análise que coloca o conetor de recomplementação no núcleo de uma projeção TopP, no especificador da qual se encontra o constituinte em recomplementação.
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