Lopes. L. 2020. Pedreiras da Zona dos Mármores: 2000 anos de exploração… E agora?

PEDREIRAS DA ZONA DOS MÁRMORES: 2000 ANOS DE EXPLORAÇÃO… E AGORA? MARBLES QUARRIES: 2000 YEARS OF EXPLORATION… NOW WHAT? As pedreiras de mármore do Anticlinal de Estremoz A excecionalidade dos mármores explorados no anticlinal de Estremoz, quer pelas qualidades técnicas, quer por razões estéticas, l...

Full description

Bibliographic Details
Main Author: Lopes, Luís (author)
Format: article
Language:por
Published: 2021
Subjects:
Online Access:http://hdl.handle.net/10174/29081
Country:Portugal
Oai:oai:dspace.uevora.pt:10174/29081
Description
Summary:PEDREIRAS DA ZONA DOS MÁRMORES: 2000 ANOS DE EXPLORAÇÃO… E AGORA? MARBLES QUARRIES: 2000 YEARS OF EXPLORATION… NOW WHAT? As pedreiras de mármore do Anticlinal de Estremoz A excecionalidade dos mármores explorados no anticlinal de Estremoz, quer pelas qualidades técnicas, quer por razões estéticas, levou a que de forma praticamente ininterrupta fossem explorados desde a Antiguidade Clássica até aos nossos dias (Lopes e Martins, 2014; Moreira e Lopes, 2019). Se há dois mil anos os efeitos na paisagem seriam praticamente nulos, hoje em dia tal não acontece. Nas últimas décadas a atividade extrativa tem aumentado de forma exponencial e os efeitos embora evidentes e até reconfiguradores da paisagem não são forçosamente negativos. A paisagem industrial, enquanto obra humana também tem o seu encanto e a experiência diz-nos que, nas zonas onde a intervenção cessou, em poucas décadas a Natureza regenera quase integralmente a paisagem potenciando novos habitats imediatamente ocupados pelos seres vivos que aí encontram condições excecionais para se estabelecerem. Os indicadores quantificados por Germano (2013) revelaram que nesses espaços não só o número de espécies é superior, relativamente ao contexto regional, como ainda os efetivos por espécie ocorrem em maior número. Há mesmo casos de espécies que só se encontram nas escombreiras e pedreiras abandonadas (Germano et al., 2014). A partir da década de setenta do século passado assistiu-se a um aumento exponencial da exploração de mármore no Anticlinal de Estremoz. No início as pedreiras estruturadas e pensadas para operarem por décadas eram relativamente poucas e já se encontravam em laboração desde o início do Séc. XX. Por esta altura, e essencialmente por uma procura externa, potenciou-se na região uma oportunidade que estava ao alcance dos mais aventureiros. Assim, em pequenos grupos ou individualmente, vários foram os homens que tentaram o “negócio das pedras” em troca do trabalho assalariado que tinham na agricultura. Com a chegada da Revolução dos Cravos, em 25 de Abril de 1974, ainda foram mais os que tentaram “abrir pedreiras”, tendo-se mesmo formado algumas cooperativas. Com mais ou menos “sorte” muitos conseguiram impor-se e são hoje empresários de sucesso. Neste processo, o conhecimento geológico de base, que seria determinante para minimizar o fator “sorte”, nunca foi considerado apesar de já haver uma cartografia especificamente orientada para esse fim (Gonçalves, 1972). Por algum motivo, “fortunas” e “falências” faziam parte das conversas locais… “fulano teve tanta sorte e agora não tem nada…” Os guias de prospeção eram essencialmente empíricos, e por isso algo falíveis, ainda que fundamentados por constrangimentos geológicos válidos. É muito interessante entender como o léxico próprio da linguagem comum tem equivalência nas denominações e conceitos mais técnico/científicos. Ao geólogo ou engenheiro geólogo/de minas que queira trabalhar na região exige-se que entenda esta linguagem que muito o ajudará a dimensionar a sua exploração. Infelizmente nos dias de hoje, ainda que raramente, continuam a existir opções de exploração completamente erradas que seriam facilmente evitadas com um acompanhamento geológico elementar. De qualquer modo, com a melhoria de condição económica, as empresas recém-criadas puderam investir capital em equipamentos e infraestruturas que potenciaram o referido aumento exponencial da exploração de mármores. Verifica-se agora que nem sempre houve cuidado na preparação dos terrenos para se edificarem instalações sociais ou montar gruas, por exemplo. Passados 30 ou mais anos a atuação dos agentes erosivos nas fundações destas estruturas fixas potenciou situações de instabilidade/risco iminente de colapso. Assim, esta análise/avaliação, ainda que pelos piores motivos, veio na altura certa no sentido de que mais acidentes poderiam ocorrer num futuro próximo. O PIPSR (plano de intervenção em pedreiras em situação de risco) implementado no último ano no seguimento do colapso da “estrada de Borba” permitiu um despertar da atenção para a avaliação de risco que não seria feita de forma tão exigente quanto o foi agora. No terreno sente-se uma maior responsabilização quer dos empresários quer dos trabalhadores e, apesar de tudo ainda que com alguma falta de sincronia, também as entidades licenciadoras e fiscalizadoras estão empenhadas no sucesso da exploração eficiente, responsável e acima de tudo, segura de um recurso estrategicamente relevante para a região e para o Pais. Nas últimas décadas, por um lado, novos e mais eficientes métodos de corte e desmonte associados à maior capacidade dos equipamentos de carga e, por outro o reconhecimento da qualidade e procura internacional forçaram, num curto período de tempo, muitas pedreiras a atingir profundidades jamais imaginadas, quem sabe, até pelos seus proprietários. Mas as reservas de mármore estão muito longe de se esgotarem, sabemos isso pelos meritórios e atempados estudos levados a cabo nas últimas décadas, principalmente pelo SFM/IGM/LNEG; CEVALOR; ASSIMAGRA; Universidade de Évora e outras, e ainda promovidos pelas empresas locais. Podemos seguramente dizer que não existe outro local em Portugal onde se tenham desenvolvido tantos estudos de ordenamento, levantamentos cartográficos de pormenor e sondagens profundas com recuperação de testemunho, como os que foram feitos no “Triângulo do Mármore” (Estremoz – Borba – Vila Viçosa). Assim, partindo desse enorme potencial de conhecimento e know-how à disposição, urge pensar o “mármore” numa visão integrada e global para que continue a ser foco de desenvolvimento nacional, mas sobretudo local. O paradigma da exploração em poço, em espaços confinados e condenados a fim anunciado, tem de mudar, estão a mudar!