Resumo: | E se Edgar Poe, esse autor americano tão fora do seu tempo e espaço, e por isso tão pouco dado a efemérides, tivesse sido atormentado não só pelo vício do álcool, mas também pelo vício da sua arte? A questão estará em saber se esse segredo nunca revelado – procurado na insondável negritude dos abismos, nos turbilhões do mar, nos enterros prematuros, nas experiências de morte antecipada, nos extremos de sofrimento provocados por instrumentos de tortura, por actos de vingança, por amores trágicos ou por impulsos perversos gratuitos – não estaria talvez muito próximo da revelação implícita, em muitos dos seus contos, de que a arte pode matar, não tendo a sua ficção outra saída que não fosse iniciar-se como uma arte do crime.
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