Summary: | É amplamente reconhecido que a confiança entre os indivíduos, grupos e as organizações é benéfica para o desempenho e constitui uma âncora ética para os negócios. Contudo, há indícios de que a relação entre a confiança e o desempenho não é directa nem linear, o que nos levou a explorar as circunstâncias em que a confiança pode ser contraproducente. O estudo de natureza exploratória e qualitativa, partiu da análise de conteúdo de entrevistas realizadas junto de dez interlocutores privilegiados e indiciou ser difícil assumir que a confiança tem uma influência directa no desempenho, pois tanto na literatura como nesta pesquisa empírica é notória a existência de efeitos de moderação e mediação por outras variáveis. Um resultado contra-intuitivo deste estudo reside na possibilidade do abuso de confiança poder cumprir funções de interesse organizacional de acordo com factores contingenciais. Esta possibilidade teórica surge sobretudo em organizações com elevada necessidade de flexibilidade. Por último parece haver um predomínio da instrumentalidade na avaliação da ocorrência de abuso de confiança, o que sobreleva para o concurso de critérios consequencialistas numa área que é tradicionalmente tida por predominantemente ética. O modelo teórico produzido poderá ser útil para explorar este lado negro da confiança sendo, por exemplo, vantajoso para as organizações, compreender a necessidade de encontrar um equilíbrio entre as drivers sócio-afectivas que nos empurram para uma situação de risco de confiança, e as de controlo burocrático-racional que afastam o elemento humano.
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