Génese da censura salazarista e práticas jornalísticas

Quando, em novembro de 1932, Salazar, na entrevista a António Ferro, afirma“ Os católicos foram absolutamente estranhos à minha entrada no Governo, como têm sido absolutamente estranhos a todos os meus atos políticos” , revela, antes de mais, a necessidade de defender a sua linha de atuação política...

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Bibliographic Details
Main Author: Barros, Júlia Leitão de (author)
Format: conferenceObject
Language:por
Published: 2021
Subjects:
Online Access:http://hdl.handle.net/10400.21/12619
Country:Portugal
Oai:oai:repositorio.ipl.pt:10400.21/12619
Description
Summary:Quando, em novembro de 1932, Salazar, na entrevista a António Ferro, afirma“ Os católicos foram absolutamente estranhos à minha entrada no Governo, como têm sido absolutamente estranhos a todos os meus atos políticos” , revela, antes de mais, a necessidade de defender a sua linha de atuação política, já em marcha. Está por estudar o lugar da censura na luta política da ditadura militar (1926- 1933). No entanto, a censura foi um instrumento político disponível, de valor incalculável, sem o qual não é possível entender a afirmação política do sector católico autoritário. À atuação da censura coube reconfigurar, continuamente, o campo dos “ situacionistas”, mas não só, a censura constituiu-se como o meio de propaganda mais abrangente e eficaz na edificação do Estado autoritário. Uma grande parcela da atividade censória recaía não sobre opiniões, ou comentários, mas sobre a matéria prima em que se vinha edificando a imprensa escrita e o trabalho jornalístico: a informação. Tratava-se de uma atividade com implicações que estavam longe de se limitar à luta política travada entre grupos e individualidades que reclamavam protagonismo no campo político. A atuação da censura implicava toda a sociedade portuguesa condicionando a experiência e perceção daquele tempo histórico. No final de 1932, ainda antes da institucionalização do Estado Novo, já se desenhava o primeiro esquisso da representação do país imaginado pelo autoritarismo católico conservador. Com base no espólio da Ephemera analiso os primeiros boletins de cortes à imprensa, redigidos semanalmente, pela Direção dos Serviços de Censura, entre março e outubro de 1932. Procuro compreender a crescente afirmação do aparelho de censura, no interior da ditadura militar, e o seu impacto nas práticas jornalísticas neste período de pré institucionalização do Estado Novo. No processo de desarticulação do sistema informativo herdado do liberalismo, então em curso, destaco a interdição de procedimentos de recolha de informação atual há muito estabelecidos nas rotinas diárias das redacções dos jornais (reportagem, entrevista, registo de depoimentos, de boatos, de notas de correspondentes, etc.).