Summary: | [Excerto] A morte, essa inimiga cruel do homem que está sempre à espreita, apanhando, muitas vezes, as suas vítimas desprevenidas, aterrorizou as populações da época moderna. As fomes, as epide-mias e as guerras eram motivos de grande mortandade e instabilidade social, neste período. As probabilidades de se ter uma vida longa eram diminutas. Morria-se cedo. Consciencializado dessa fragilidade, o homem impunha a si próprio uma constante preparação para a hora da morte. Nesse sentido, entre outras ações, era necessário fazer-se testamento ainda com saúde, confessar-se e comungar frequentemente. Embora este seja um tema já bastante desenvolvido historiograficamente, distinguindo-se vários trabalhos sobre o assunto, em Portugal e no estrangeiro, como são os casos de Ana Cristi-na Araújo, Tiago Ferraz, Laurinda Abreu, Mafalda Lopes, José Marques, Domingos González Lopo, Michel Vovelle, Cécile Treffort, Margarita Torremocha Hernández, Ângel Rodríguez Sánchez, entre muitos outros que oportunamente citaremos, notamos a falta de informação sobre a morte da-queles que se encontravam em viagem ou em peregrinação. O nosso trabalho não recai, portanto, sobre a morte em si, ou as atitudes da população moderna face a esta realidade, aspetos já analisa-dos. Tende, todavia, a centrar-se no falecimento daqueles que se encontravam desenraizados, isto é, dos forasteiros. Neste panorama, somos remetidos para as principais instituições de caridade deste período, as Misericórdias que, entre as suas várias funções, assumiam a obrigação de assistir os peregrinos e sepultar os mortos. [...]
|