Resumo: | A zona costeira de Maputo representa um dos últimos redutos de terra livre na capital moçambicana, ao mesmo tempo que se torna o bastião de uma nova imagem de cidade, inscrita no ideário neoliberal dominante. Na prática, entre propostas e projectos de intervenção diversos, orientados sobretudo para a lógica de mercado, os bairros autoproduzidos vão tecendo um tecido urbano próprio, fruto da sobreposição a sistemas da paisagem, nomeadamente dunas e áreas de mangal. Partindo do pressuposto da existência de uma só paisagem, a humanizada e as suas dinâmicas, propõe-se a leitura da zona costeira de Maputo enquanto sistema, tendo em conta os múltiplos factores naturais e sociais que a marcam e as mudanças das suas dinâmicas ao longo das últimas décadas. Com base num trabalho de campo aprofundado, realizado no quadro de uma investigação de doutoramento em curso, caracteriza-se o tecido urbano autoproduzido em áreas ecologicamente vulneráveis, de forma a identificar e melhor compreender as dinâmicas da paisagem, à luz da (auto)produção do espaço. Tomando como caso-estudo o Bairro dos Pescadores, na Costa do Sol, analisa-se a transformação do tecido (auto)produzido e a sua relação com a paisagem a partir do início do novo milénio, acompanhando a consolidação do actual contexto neoliberal. Ao cartografar as interacções estabelecidas entre a expansão e densificação do tecido urbano e a paisagem onde se insere reflectimos sobre a influência dos seus elementos na forma urbana e o significado que adquirem para os moradores
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