A Institucionalização do Karaté - Os Modelos Organizacionais do Karaté em Portugal

APRESENTAÇÃO RESUMIDA O autor parte dos conceitos motricidade humana (M. SÉRGIO) e desporto (G. PIRES), situando os conceitos de acção de RICOEUR, motrice em PARLEBAS e motrícia em TRIGO, vivificando o conceito de motrícia desportiva, passando pelos de acção motrícia e conduta motrícia. Preparando o...

Full description

Bibliographic Details
Main Author: Figueiredo, Abel (author)
Format: doctoralThesis
Language:por
Published: 2010
Subjects:
Online Access:http://hdl.handle.net/10400.19/448
Country:Portugal
Oai:oai:repositorio.ipv.pt:10400.19/448
Description
Summary:APRESENTAÇÃO RESUMIDA O autor parte dos conceitos motricidade humana (M. SÉRGIO) e desporto (G. PIRES), situando os conceitos de acção de RICOEUR, motrice em PARLEBAS e motrícia em TRIGO, vivificando o conceito de motrícia desportiva, passando pelos de acção motrícia e conduta motrícia. Preparando o seu estudo em termos metodológicos, o autor abre se inicialmente à hermenêutica da acção com RICOEUR, situando-se na pós-modernidade onde elogia a dupla vigilância epistemológica, ou seja: a um só tempo a vigilância epistemológica de BACHELARD numa ruptura contra o senso comum e, como SANTOS e SÉRGIO, a segunda ruptura com (a par de) o senso comum. Lança pistas de análise institucional para o desporto, como é exemplo, inspirado em DERRIDA, SÉRGIO e PIRES, a tese de desconstrução agonística do desporto. Chama a atenção para a institucionalização da dimensão lúdica nas chamadas modalidades “radicais” mais assentes no bem-estar que no espectáculo agonístico, sem que com isso se deva perder a função de inclusão das modalidades no quadro do desporto federado. Trata-se, em última análise, de uma importante distinção entre praticante e competidor: algo a ser trabalhado em investigações transversais ao nível da gestão do desporto, salientando como a educação, a arte, a saúde e o desporto estão intimamente relacionados, independentemente da instituição em que a sua gestão ocorre. Pressupõe ainda que a institucionalização central deve ser estudada a partir das organizações meso ou seja: as federações nacionais no caso português e as federações internacionais no caso internacional, situando-se entre os mecanismos tutelares mais macro e os mecanismos operacionais concretos mais micro. Elogia assim, por um lado, a contextualização concreta em modalidades desportivas, no estudo específico do caso Karaté e, por outro lado, modela o que denomina mais à frente como mesoscópio, enquanto instrumento e atitude de investigação, integrando a hermenêutica fusão de horizontes numa atitude que descreve como dupla vigilância epistemológica. O autor avança no estudo concreto do Karaté e, aí, problematiza o que denomina como motrícia de combate ritualizado, descontextualizando-se da actividade Guerra e penetrando na essência do desporto em sublimação lúdica e agonística de uma cinética vinculada à guerra. É esse projecto que procura descortinar deste os primórdios, num exercício de desconstrução proto-desportiva específica à motrícia de combate ritualizado. O seu estudo interpretativo, explicando e compreendendo a proto-mitologia específica de Gilgamesh a Homero, e o proto desporto da Grécia clássica à modernidade ocidental, passando pelo Renascimento, elogia, em primeiro plano, a arete, ou seja a excelência no sentido do carácter virtuoso e, assim, com valor qualificativo próprio à pessoa em acção, assumindo características de vigor e saúde para a arete do corpo e de sagacidade e penetração para a arete do espírito, ainda sem o dualismo cartesiano posterior. Afirma que os sentidos da vida em Gilgamesh e os sentidos da acção motrícia nos Gregos, são intencionalidade no homem contemporâneo em acção motrícia desportiva contextualizável aos budo ou aos desportos trans-budo, quando, para além da exclusiva visão vertical da cultura Japonesa institucionalizadora, e para aquém da industrialização ocidental de segunda vaga. Investiga o contacto entre o Ocidente e o Oriente, estudando os primeiros movimentos quinhentistas entre os portugueses, japoneses e os léquios (okinawenses), aduzindo conhecimento pertinente para a interpretação da história de Portugal. Apoiado nas investigações de SAKIHARA (1987; 2000), refuta a ideia central de BOXER (1993, p. 12) na interpretação dos primeiros relatos de Tomé PIRES sobre contactos com os léquios, concluindo que deixa de ter sentido a visão do “povo pacífico, sem armas e sem guerra” ou de “gentis e inofensivos luchus” levantada por Basil HALL, (1818, p. 196), vinculada ao exagero do episódio de desarmamento de Okinawa vista por muitos, noutros contextos, como estímulo fundante do karaté nascitura. Problematiza também, entre outras coisas, o exagerável efeito da introdução da espingarda na unificação do Japão, face à evidência de falta de eficácia do mítico sabre dos Samurai na realidade da guerra, o que realça o valor simbólico e atitude artística vinculadora das actividades normalmente referidas como “artes marciais” e extremamente integradoras de uma atitude “orientalista” europeia, e mesmo ocidental, em mistura com as narrativas de credibilização evidenciadas por GREEN. Identifica se, em Portugal, Dom João I e, principalmente, D. Duarte, na sua vinculação educativa à luta, interpretando como, desde o declínio da Idade Média, o surgimento do requinte renascentista e do duelo, misturados na episteme racionalista e dualista da época, se tornam pano de fundo do desporto, até ao surgimento do primeiro gestor moderno do desporto, James Figg, numa teia onde as apostas e o espectáculo juntam todos os estratos sociais. No oriente, sem dualismo cartesiano hipervalorizador da mente em relação ao corpo, há a hipervalorização da função artística, evidente no encerramento espacializado em cada expressão da vida que se torna cultura e, também os guerreiros o fazem num Japão mais unido e fechado, nascendo expressões de artes marciais estilizadas institucionalmente em escolas específicas dos bujutsu, que são posteriormente conhecidas na abertura do Japão à sua modernização tendenciosamente copista, sendo interessante como se pode situar, através de Erwin BAELZ, um ocidental acidental, a institucionalização das artes marciais bujutsu em Budo. A Institucionalização Olímpica na transição do século XIX para o séc. XX, encerra estes ciclos, dando início à globalização e robustecendo o fenómeno organizacional em torno das federações internacionais de modalidades desportivas que, embora interrompidas no Japão durante a segunda guerra mundial, marcam a sua plena adesão em 1964, com os Jogos Olímpicos de Tóquio e a entrada do Judo no programa olímpico. A emergência do Karaté em Okinawa apresenta-se em torno das instituições (escolas, clubes e associações), sendo inclusivamente encontradas, no decorrer deste estudo, novidades organizacionais nas relações com a instituição escolar, assim como novidades relativamente à tradução de kanji (escrita japonesa), identificando erros e omissões, demonstrando mesmo a fragilidade das fontes de segunda ordem de grandeza, e adiantando soluções quando na base de fontes primárias, o que demonstra o grau de acuidade a que se pretende chegar em algumas partes do estudo, principalmente quando se sabe como é negligente a fonte de informação documentada existente sobre o assunto. Desmistificam se conceitos e ideias ventiladas em estudos sobre o Karaté e demonstra-se como um novo caminho deve ser feito a partir daqui, não só em Portugal, mas mesmo a nível internacional. Colhem se as últimas informações sobre a problemática olímpica e o Karaté, situando as na lógica do percurso de outros exemplos como o da olimpização do Taekwondo através de Un Yong Kim, sendo mesmo dos primeiros, senão o primeiro estudo académico internacional após a sua expulsão do COI, demonstrando as fragilidades humanas que a instituição dos cinco anéis, como tutela internacional, tem tido desde que iniciou o tratamento da questão internacional da modalidade. Essa ignorância tutelar sobre o assunto é demonstrada também na tutela em Portugal, desde o início da prática das artes marciais até hoje, ou seja, desde a União Portuguesa de Budo até à Federação Portuguesa de Budo, em graus diferentes. A institucionalização do Karaté em Portugal é apresentada com dados de primeira-mão, recolhidos dos próprios pioneiros, sendo muitos deles documentados e outros cruzados para o estabelecimento de uma fonte segura de informação imprescindível para trabalhos futuros. Para dar um exemplo da precisão do estudo feito, problematiza-se como o primeiro mestre japonês em Portugal pode ter sido Mochizuki, em 1959, em Beja, num estágio de Karaté, facto nunca antes referido, o que lança linhas de investigação interessantíssimas para o futuro. Pela primeira vez faz-se essa apresentação relativamente aos principais grupos de Karaté, com destaque para o Shoto, Shito, Goju e Wado e respectivas linhas, explicando-se e compreendendo-se, com o autor, o caminho da institucionalização que vivifica a construção de um modelo de análise institucional simples e completo. Esse modelo pentadimensional construído, denominado mesoscópio transversal pela circularidade hermenêutica, apresenta se como um ponto de partida para investigações futuras, não só no Karaté, mas em todos os desportos budo, assim como restantes artes marciais. Através deste modelo, demonstrado ao longo do trabalho, interpreta-se como a complexidade institucional das artes marciais têm uma particularidade institucionalizadora própria nunca até hoje trabalhada no sentido apresentado.