Summary: | Introdução: A Artrite Reumatóide (AR) é uma doença inflamatória sistémica e crónica, de etiologia desconhecida, que afecta aproximadamente 1% da população geral adulta. Representa o paradigma de uma doença sistémica autoimune. No que toca ao envolvimento articular, cursa habitualmente com uma poliartrite (5 ou mais articulações afectadas) que afecta pequenas articulações das mãos e dos pés. Para a classificação da doença, existe um conjunto de critérios, desenvolvidos pelo Colégio Americano de Reumatologia (ACR). Diversas manifestações extra-articulares podem ocorrer, durante o curso da doença, incluindo a doença cardíaca. A AR é, em si mesma, um factor de risco independente para doença arterial coronária e pacientes com doença articular grave estão em risco elevado de morte cardiovascular. Deverá portanto ser considerada como uma doença na qual o risco cardiovascular está elevado. Objectivos: O presente estudo de investigação tem como objectivo estudar e caracterizar a existência de envolvimento cardíaco, em doentes com AR, no que toca a alterações cardíacas morfológicas e funcionais, bem como pesquisar a existência de doença coronária aterosclerótica e periférica, e alterações de condução. Proceder-se-á à caracterização da doença, da medicação em curso e pesquisa de factores de risco cardiovasculares. Métodos: Trata-se de um estudo observacional descritivo, em que foram seleccionados aleatoriamente, ao longo de 3 meses, 45 doentes com diagnóstico de AR, seguidos na consulta de Reumatologia. Foi-lhes pedido o Consentimento Informado, tendo havido uma resposta positiva de todos. Uma vez definida a amostra, desenvolveu-se um Protocolo de Avaliação dos doentes e foi realizado o Índice Tornozelo-Braço. Foram ainda compilados os dados referentes aos Exames Complementares de Diagnóstico. Tendo em conta a dimensão da amostra, os dados foram tratados de uma forma descritiva. Resultados: A amostra é composta por 45 doentes, dos quais 69% são do sexo feminino. Depois de analisados os dados obteve-se que os pacientes com doença activa têm um menor tamanho da aurícula esquerda; os doentes com mais tempo decorrido desde o diagnóstico possuem um colesterol LDL mais baixo e têm menos insuficiência aórtica; os doentes com anti-CCP positivo, têm um SCORE mais baixo e uma aurícula esquerda maior; os doentes com PCR elevada têm níveis mais baixos de triglicéridos; os doentes com VS elevada possuem frequência cardíaca mais alta. É de referir que 56% dos indivíduos possuíam a doença activa e 50% tinha frequência cardíaca igual ou superior a 70 bpm. Quanto ao SCORE, destaca-se que 13 doentes possuíam elevado risco de doença cardiovascular fatal aos 10 anos. Registaram-se 8 bloqueios fasciculares e, quanto às insuficiências valvulares, a válvula tricúspide foi a mais afectada, logo seguida pela mitral, tendo sido a aórtica a menos registada. Em 16% dos doentes, encontrou-se doença arterial obstrutiva periférica, principalmente em mulheres jovens. Encontrou-se 24% de pacientes com doença aterosclerótica estabelecida, sendo que 2 doentes tinham afectação de 2 territórios vasculares, configurando um prognóstico agravado. Discussão: A reduzida amostragem é uma das principais limitações à discussão deste estudo. Os clínicos devem estar sensibilizados para as manifestações extra-articulares, nomeadamente cardíacas, da AR, e deverão valorizar e aplicar as recomendações para o controlo do risco cardiovascular nestes doentes. Conclusões: Terá todo o interesse a realização de estudos complementares, e que envolvam amostras maiores de doentes com AR, para uma mais clara caracterização do envolvimento cardiovascular.
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