| Summary: | Contexto: A pandemia COVID-19 causou uma crise mundial com caraterísticas excecionais. Vários estudos destacaram uma redução global e significativa na qualidade do sono, fortes alterações nos hábitos diários do sono e grupos vulneráveis a este efeito, evidenciaram um impacto na atividade onírica, nomeadamente aumento da frequência e recordação de sonhos e pesadelos, alterações no conteúdo dos sonhos e nos aspetos emocionais destes, reportando sonhos pandémicos, predominantemente negativos. Objetivo: Analisar o impacto da vivência da pandemia e das suas consequências nos padrões de sono e nos sonhos numa amostra da população portuguesa. Métodos: A amostra foi constituída por 1020 adultos portugueses (684 do sexo feminino e 336 do sexo masculino). Os participantes responderam a um questionário sociodemográfico e de vivência da pandemia e a um questionário de padrões/hábitos de sono e de sonho durante a pandemia COVID-19. Resultados: Os participantes percecionam um maior impacto da pandemia no domínio social e na saúde mental. O impacto da doença na rede social parece ter sido substantivo. A experiência pessoal e o impacto da pandemia emergem como associados a mudanças nos padrões de sono, reportados pelos respondentes, durante o confinamento. Mais de um quarto dos respondentes reportam que tiveram um sonho relacionado com a COVID-19, referindo emoções e sensações negativas associadas aos mesmos. As mulheres, indivíduos mais novos, sujeitos que pertenciam a um grupo de risco, indivíduos afetados no emprego e na saúde mental têm maior probabilidade de sonharem acerca da COVID-19. Um maior impacto da pandemia está associado a maiores níveis de carga emocional e de angústia nos sonhos. Conclusão: Um dos principais contributos deste estudo é a descrição da experiência pessoal da vivência da pandemia e o impacto da mesma, evidenciando o impacto no sono e nos sonhos, no contexto português. Destaca-se o forte impacto na atividade onírica, sustentando a ideia da existência de uma “pandemia de sonhos”. É de salientar ainda a relevância clínica, numa perspetiva psicanalítica, de dialogar acerca dos sonhos como ferramenta para identificar referências à COVID-19 nos sonhos, identificar medos e trabalhar/abordar as angústias experienciadas na pandemia. / Background: The COVID-19 pandemic caused a global crisis with atypical characteristics. Several studies signaled a global and significant reduction in sleep quality, changes in daily sleep habits (and the most vulnerable groups to this impact), an impact on dream activity, notably increased dream and nightmare frequency and recall, changes in dream content, and their emotional tonality, reporting the existence of pandemic dreams, primarily negative. Objective: To analyze the impact of pandemic experiences and their perceived impact on sleep patterns and experienced dreams in a sample of the Portuguese population. Method: The sample consisted of 1020 Portuguese adults (684 females and 336 males). The participants answered a sociodemographic and pandemic experience questionnaire and a sleep/dream patterns/habits questionnaire during the COVID-19 pandemic. Results: Participants perceive a more significant impact of the pandemic on the social and mental health domains. The impact of the disease on the social network seems to have been substantial. Personal experiences and the impact of the pandemic emerge as associated with changes in sleep patterns, reported by respondents during confinement. More than a quarter of respondents reported a dream related to COVID-19, mentioning its negative emotions and sensations. Women, younger people, subjects who belonged to a risk group, and those affected in their work and mental health spheres are more likely to dream about COVID-19. A more significant impact of the pandemic is associated with greater levels of emotional burden and anguish in dreams. Conclusion: One of the main contributions of this study is the description of personal experiences during the pandemic and its perceived impact, highlighting its influence on sleep and dreams in the Portuguese context. The strong impact on dream activity stands out, supporting the hypothesis of a “dream pandemic.” It also has clinical relevance; from a psychoanalytic perspective, talking about dreams might be a tool to identify COVID-19 references in dreams, recognize fears, and elaborate/address the anguish experienced in the pandemic.
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