| Summary: | A presente tese propõe-se estabelecer um diálogo entre a obra de Glória de Sant’Anna e de Eduardo White, para comprovar que a temática do mar e do amor tem marcado o processo de afirmação da poesia moçambicana. A partir de dois períodos históricos diferentes e com um olhar direccionado para o ambiente literário moçambicano dos anos 50 e 60 e da geração Charrua, no pós-independência, será estabelecida uma relação entre a obra de Glória de Sant’Anna e de Eduardo White. A poesia de White é analisada como uma releitura e reescrita da poética de Glória de Sant’Anna, visando demonstrar que em Moçambique os poetas retrabalharam heranças e estilos de um autor para outro e de uma geração para outra. Um dos objectivos centrais deste trabalho é também o estudo crítico de uma poeta até agora pouco estudada, Glória de Sant’Anna, a fim de enquadrar a sua poesia na história da literatura moçambicana. É também objectivo deste trabalho definir as afinidades poéticas e intertextuais entre Glória de Sant’Anna e Cecília Meireles, por um lado, e Eduardo White e Carlos Drummond de Andrade, por outro, para demonstrar que a poesia se foi construindo no âmbito de um prolífico diálogo intertextual, interno e externo, neste caso, em simultâneo com a poesia moçambicana e com a brasileira. Esta interlocução citacional e textual produz e tem como resultante a elaboração, através da poesia, de diversas genealogias e correspondências, no âmbito do lirismo intimista, que propiciam a construção de aspectos inéditos na história literária moçambicana. Através da análise aprofundada de aspectos temáticos da obra de Glória de Sant’Anna e de Eduardo White, demonstraremos a recorrência de um imaginário poético fundado nos elementos naturais, sobretudo aquáticos, sendo que o poeta moçambicano acrescenta a essa componente temática um carácter eróticoamoroso. A partir da articulação desses elementos pretendemos contribuir para a definição de um núcleo temático construído à volta do imaginário do Índico que se vai afirmando desde o período colonial e que contribui para o alargamento de um possível cânone poético moçambicano.
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