Resumo: | O presente trabalho tem como objectivo analisar a noção de isefet no âmbito dos Textos dos Sarcófagos do Império Médio do antigo Egipto (c. 1980-1640 a.C.). Consideramos que uma análise mais desenvolvida sobre o conceito pode contribuir para iluminar tanto a compreensão do conceito em si quanto a estrutura destes textos funerários. Esta proposta de conceptualização afigura-se particularmente pertinente, na medida em que, na transição do Império Antigo para o Império Médio, se percebe um florescer e ramificar da dialéctica maet/isefet. Contudo, maet tem sido, do par nocional, o elemento mais explorado nos estudos egiptológicos, em detrimento de isefet, que não tem merecido ensaios relevantes, apesar de as categorias de «desordem» carecerem de uma discussão mais alargada. Metodologicamente, a pesquisa baseia-se nas passagens dos Textos dos Sarcófagos que referem explicitamente o termo isefet, de forma a assegurar uma reflexão consistente, que contribua para a apreensão de uma mais depurada conceptualização e consolidação do seu campo de significados. Nesse sentido, procura-se desenvolver um trabalho de análise heurística estruturado em duas vertentes: uma de pendor mais formal de análise em contexto linguístico imediato; outra de pendor mais interpretativo, de análise em contexto extensivo. Dada a natureza mágico-ritual dos Textos dos Sarcófagos, optámos por inscrever a análise desta dissertação no âmbito da teorização de «teologia implícita» desenvolvida por Jan Assmann, a prática sagrada ritual e constelativa que assenta no contacto com o divino nas dimensões cultual, cósmica e mítica, procurando destacar o nível da performatividade ritual, que permite compreender estes textos com o seu enquadramento simbólico e cronológico específicos e, dentro do possível, na sua operacionalidade.
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