Summary: | Nos últimos anos, em muitos países, incluindo Portugal, a fasciolose tem vindo a ser considerada uma doença emergente, resultando num problema de saúde humana e animal, e com elevado impacte económico. O conhecimento da estrutura genética de populações de Fasciola hepatica é essencial quando se avalia o potencial de desenvolvimento e extensão da resistência aos anti-helmínticos, tais como fármacos triclorobendazol e albendazol. A espécie F. hepatica pode ser encontrada em todos os continentes, exceto a Antártida, enquanto que F. gigantica se encontra apenas na África e na Ásia. Ambas as espécies de Fasciola utilizam como hospedeiros intermediários moluscos de água doce da família Lymnaeidae. Utilizou-se uma amostra com um total de 94 vermes. Oitenta e sete vermes adultos de F. hepatica da coleção do Departamento de Helmintologia Médica do IHMT, fixados em etanol a 70% e armazenados a -20 ºC, obtidos entre 2009 e 2010 em matadouros de Portugal e provenientes de diversas regiões do país. Sete vermes tinham sido recolhidos no Brasil em 2015. Extraiu-se o DNA genómico através do protocolo de CTAB. Avaliaram-se três marcadores nucleares: ITS1, para identificação da espécie, o gene ribossomal 28S e o gene para TubB3, que é um marcador candidato de resistência aos fármacos. Avaliou-se também um marcador mitocondrial: citocromo c oxidase I. Os marcadores foram amplificados por PCR e sequenciados. No caso de 28S e de TubB3, SNPs de interesse foram genotipados com PCR específico desenvolvido no âmbito deste trabalho, e no qual se testou a eficiência de desemparelhamentos em bases na 2ª e na 3ª posições antes do extremo 3’. Redes filogenéticas foram geradas, para alinhamentos de sequências com bases ambíguas ou heterozigóticas, no programa SplitsTree4, utilizando o algoritmo NeighborNet e as distâncias calculadas através do modelo Kimura-2- parameter. A região ITS1 permitiu identificar as amostras como F. hepatica e mostrou ser bastante conservada. A região 28S mostrou heterozigotia na posição 115, que separa duas linhagens encontradas no leste Europeu, em todas as amostras Portuguesas e Brasileiras, sugerindo que esteja a ocorrer seleção de heterozigoto ou reprodução partenogénica. As regiões COI e TubB3 apresentaram diversidade intra-populacional em Portugal e no Brasil e em relação a outras regiões, assim como heterozigotia em várias posições, e poderão ser usadas em estudos populacionais alargados desta espécie nos dois países. Contudo, a alteração não sinónima na posição 311 de TubB3 não foi detetada nas amostras estudadas, sugerindo que este gene não está envolvido em resistência a fármacos em F. hepatica, pelo menos em Portugal ou no Brasil. O PCR específico para alelos mostrou ser uma alternativa à sequenciação para genotipagem de SNPs específicos num número grande de amostras, particularmente em estudos populacionais e na pesquisa de marcadores de resistência a fármacos.
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