Summary: | A construção da barragem de Alqueva, considerada como fundamental em todas as estratégias de desenvolvimento desenhadas para o Alentejo, traduziu-se numa profunda alteração paisagística de um amplo território a par da disponibilidade de um recurso natural nele tido como escasso, a água. O texto legal respeitante a tal empreendimento bem como o formulado por agentes económicos e institucionais diversos com interesses directos na região, constituiu relevante instrumento na formulação e difusão de um novo ideário paisagístico e elemento promotor de novas significações do recurso água. A leitura diacrónica de tais textos, genericamente designados como textos de autoridade atenta a sua génese institucional e social, permite verificar terem ocorrido mudanças nas representações associadas aos conceitos de paisagem e de água, resultantes de interferências económicas advindas do sector turístico-imobiliário, que obrigaram a reformular e a reordenar as justificações associadas à sua construção. No âmbito de tal reformulação, em que se recorreu a uma estreita associação com os conceitos de património e de cultura, a significação inicial do próprio empreendimento foi profundamente alterada. Estes textos reflectem não só as condições sociais concretas que determinaram tais reordenamentos estratégicos, mas concorreram eles mesmos para tais alterações, instituindo-se como factores de mudança, mercê da sua condição de autoridade, facto que se pretende analisar no presente estudo.
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