Summary: | Depois da realização de alguns inquéritos léxico-semânticossobre alguns regionalismos madeirenses, no centro do Funchal e noutros concelhos rurais da Madeira, surgiu o interesse em fazer um trabalho semelhante num contexto considerado de periferia social, neste caso no Bairro da Nazaré (BN), freguesia de S. Martinho, no Funchal. Trata-se de um estudo dialetal com contributos da sociolinguística, numa perspetiva sociocultural desta comunidade periférica pouco afastada do centro do Funchal, no âmbito do Português falado no Arquipélago da Madeira. Este artigo tem um carácter exploratório, possibilitando fornecer informações parciais e colocar hipóteses, a partir dos dados apresentados. Os informantes da nossa amostra nasceram no Funchal, em diferentes freguesias deste concelho, mas os seus pais e/ou avós, na sua maioria, são provenientes de localidades rurais da ilha da Madeira, o que poderá explicar o facto de alguns falantes conservarem regionalismos madeirenses como parte da sua identidade local e regional. As mulheres das três faixas etárias consideradas conhecem mais regionalismos do que os homens, tendo um comportamento linguístico mais conservador, provavelmente devido ao seu papel tradicional na comunidade e ao facto de não estarem inseridas na vida ativa. Os homens fornecem mais significados não documentados, ou seja, diferentes aceções não-padrão dos regionalismos e um deles, que trabalha fora do BN, no Funchal, é o que indica mais significados da norma padrão, no caso dos regionalismos semânticos. No que se refere à idade, como era de esperar, os falantes mais jovens são os que menos regionalismos conhecem. A variável escolaridade mostrou-se pouco relevante, bem como o fator localidade, uma vez que existem diferenças pouco significativas entre os falantes. Assim, através da variação lexical e semântica de alguns regionalismos madeirenses, o BN revela-se um espaço simultaneamente de conservação e de inovação linguística.
|