Summary: | A presença de compostos químicos de origem antropogénica, nos mais variados ecossistemas aquáticos, já não é um assunto novo. No entanto, apesar da proibição da utilização de muitos destes compostos, a sua presença continua a ser detectada mesmo a concentrações baixas. As zonas costeiras, mais propriamente os estuários, são objecto de grande preocupação. Devido ao seu elevado valor ecológico e económico e, também, o facto de serem um destino final de uma grande quantidade de compostos maioritariamente de origem antropogénica, torna necessário a sua monitorização e o desenvolvimento de métodos com espécies autóctones que permitam uma melhor avaliação do impacto desses compostos. Assim, o objectivo principal deste trabalho consistiu na determinação e avaliação das respostas de biomarcadores a determinados contaminantes disruptores endócrinos (EDCs), utilizando o peixe estuarino Pomatoschistus microps como organismo-teste e na avaliação da viabilidade de utilizar a quantificação da vitelogenina (vtg) nesta espécie como biomarcador de exposição a esses compostos. Esta avaliação foi realizada após 21 dias de exposição, tanto em juvenis (em corpo inteiro) como em fêmeas (fígado e gónadas). Em conjunto com a vtg foram analisados os índices hepato e gonadossomáticos (HSI e GSI, respectivamente) para a disrupção endócrina e a avaliação da acetilcolinesterase (AChE) para exposição a neurotóxicos. Os EDCs testados, a nível sub-letal, foram o 17β-estradiol (E2), o pesticida p,p’-DDE e o PCB-77, todos considerados compostos disruptores endócrinos de acção estrogénica e/ou antiestrogénica. Os resultados mostraram, em juvenis, um aumento na vtg por acção do 17β-estradiol e uma diminuição nos seus valores por acção do PCB-77. Nas fêmeas, foram encontrados resultados significativos com o aumento da vtg no fígado depois da exposição ao PCB-77 e nenhuns resultados significativos nos outros parâmetros. A exposição ao p,p’-DDE não induziu alterações significativas nos parâmetros endócrinos analisados. Relativamente à AChE, o PCB-77 parece aumentar a sua actividade nos juvenis e observa-se o resultado oposto nas fêmeas. Por sua vez, o p,p’-DDE parece não afectar a actividade da AChE nas fêmeas. Em conclusão, os juvenis de P. microps parecem responder à contaminação por EDCs a concentrações ambientais relevantes de E2 e PCB-77 e a utilização da vtg neste estágio de vida parece apropriado para identificar a contaminação por EDCs em estudos de monitorização ambiental. As fêmeas deste peixe, no geral, parecem não ser suficientemente afectadas pelas concentrações dos EDCs testados.
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