Summary: | Introdução: As reações adversas a medicamentos (RAM) constituem um problema de saúde pública e são especialmente graves numa população polimedicada e mais frágil como a população idosa. Em Portugal, há uma elevada taxa de notificações de RAM referentes à população idosa, o que levanta a necessidade urgente de se efetuarem estudos de farmacovigilância nesta área. As enxaquecas e cefaleias primárias são um problema de saúde com elevada incidência em toda a população, mas há casos específicos de cefaleias secundárias devido à utilização de medicação, quer seja por sobredosagem, interações medicamentosas ou mesmo uma resposta prejudicial e não intencional a um medicamento usado de acordo com autorização de introdução no mercado. A farmacovigilância é um processo essencial para avaliar e aumentar a segurança dos fármacos, através da identificação dos fatores de risco e do levantamento de queixas, tentando prevenir a ocorrência de RAM noutros doentes. Métodos: Foi feita uma pesquisa na base de dados nacional de farmacovigilância do INFARMED, incluindo todas as notificações referentes a doentes com idade igual ou superior a 65 anos com o termo LLT ‘headache’ do dicionário MedDRA, recebidas entre 01/01/2007 e 31/12/2017. Os casos com informação incompleta e os duplicados foram eliminados. A população foi avaliada quanto à distribuição por género e idade, bem como a respetiva taxa de polimedicação. As notificações de reações adversas foram analisadas quanto à classe do(s) medicamento(s) suspeito(s), de acordo com a classificação ATC (Anatomical Therapeutic Chemical) da Organização Mundial de Saúde, ao grau de gravidade, relação de causalidade atribuída entre o fármaco e a reação adversa, e evolução do caso. Foram ainda analisadas as outras reações adversas notificadas que acompanhavam as cefaleias. Resultados: Neste período de 11 anos foram analisadas 155 notificações que tinham cefaleias como reação adversa. A população analisada era constituída maioritariamente por doentes do sexo feminino (75%) e da faixa etária dos 65-74 anos (54%). Cerca de 43% dos doentes estavam a tomar 5 ou mais fármacos simultaneamente, resultando numa taxa de polimedicação bastante elevada. As classes farmacoterapêuticas dos medicamentos suspeitos mais comummente reportados foram antivíricos (9%), antidislipidémicos (8.4%), anti-depressores (6.5%), analgésicos estupefacientes (5.8%) e bifosfonatos (5.2%). É de realçar que quase metade das notificações (46%) foram consideradas graves. Foram relatadas diversas outras reações adversas além das cefaleias, de entre as quais as mais comuns foram tonturas (18.7%), alterações de visão (15.5%) e náuseas (15.5%). Discussão e conclusões: De acordo com os resultados deste estudo, deve existir maior cuidado ao prescrever analgésicos estupefacientes, anti-depressivos e anti-dislipidémicos nesta população, optando por medidas não farmacológicas ou por outras classes de medicamentos. Nos doentes idosos é necessário ter-se atenção às doses dos medicamentos, que devem ser ajustadas, devido às alterações fisiológicas que ocorrem com o avançar da idade. Sugere-se ainda a elaboração de estudos clínicos na população idosa, antes ou após a comercialização dos medicamentos, tendo em conta que neste momento os idosos raramente são incluídos nos ensaios clínicos, e é necessário avaliar a segurança dos fármacos para estes doentes. Também os profissionais de saúde, em todos os níveis de cuidados, devem estar alertados para a necessidade de monitorizar a terapêutica e notificar eventuais RAM, promovendo o bem-estar dos doentes idosos e o uso seguro do medicamento.
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