Resumo: | A frase que serve de título a este breve estudo finaliza o prólogo da História da Escola de Música da Sé de Évora (1973) do Cónego José Augusto Alegria (1917-2004) e, de certa forma, resume a postura ideológica que pautou o seu trabalho musicológico ao longo do século XX. Figura controversa no meio, pelo seu conservadorismo, a sua actividade musicológica centrou-se na polifonia vocal sacra dos séculos XVI e XVII, focando a música em torno de instituições musicais como a Sé de Évora (e os compositores associados a esta instituição), a Capela e Colégio dos Santos Reis do Palácio Ducal de Vila Viçosa e, mais tarde, também a Sé de Elvas. Alegria foi também uma das figuras principais no arranque da segunda série da Portugaliae Musica – uma vasta colecção que envolvia a edição moderna do património musical português – financiada pela Fundação Calouste Gulbenkian, sendo autor de seis volumes entre 1962 e 1974, e mais oito nas décadas de 80 e 90. Para além da edição musical, foi ainda autor de vários tratados sobre teoria da música de autores dos séculos XVI e XVII, assim como de vários catálogos de fundos musicais – destacando-se aqueles actualmente conservados na Biblioteca Pública e Sé de Évora – e ainda inúmeros estudos sobre a actividade musical de instituições religiosas. Este estudo centra-se na actividade musicológica de Alegria durante as décadas de 60 e 70, período fundamental na história da musicologia portuguesa do século XX. Através de uma análise dos seus escritos pretende-se compreender as suas posturas enquanto intelectual, assim como as influências no seu trabalho, fruto do contacto que manteve com os seus congéneres nacionais e estrangeiros, assim como as metodologias utilizadas à luz dos vários contextos musicológicos da época.
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