Summary: | Apresenta-se uma composição poética em que se busca o cruzamento entre uma sensibilidade, necessariamente pessoal, e um olhar sobre os loci da humanidade e seus desafios. A composição poética elabora uma tríade de pequenos textos que, poeticamente diversos, se olham e se questionam, ao mesmo tempo que interpelam e apelam para uma escuta reconstrutora de sentidos. Ainda que breve, emerge um olhar que se sonha desperto sobre o homem e a humanidade e também sobre o homem na sua humanidade complexa e poliédrica. Em alguns destes poemas persiste uma voz romanticamente interventiva. Nunca a palavra poética deixará de ter uma dimensão cronotópica. Esta é, aliás, intrínseca a toda a arte. Foi assertivo Aguiar e Silva quando, acerca do discurso das Humanidades, afirmou que ele tem de ser sempre “a defesa intransigente, contra os dogmatismos, os tiranos e os espoliadores, da liberdade e da dignidade do homem, no plano das ideias e dos valores e no plano das práticas concretas” (Silva, 2010, 12). Noutros, a voz poética é mais depurada. Cruzando-se com o religioso, o arquitetónico e com uma terminologia científica, busca sempre esse desejo expresso por Julio Cortázar de “eliminar toda a passividade na leitura” (Cortázar, 2013, 227). Se, num tempo de tecnologia invasiva, “todos devem refugiar-se no santuário do papel” (Foer, 2018, 251), não é só porque esse santuário permite um refúgio, a ocupar conscientemente, mas também porque ele faz nascer em nós um olhar poético, isto é, criador, sobre o mundo.
|