Resumo: | A malária é transmitida por mosquitos que, preferencialmente, picam no interior (endofágicos) ou no exterior (exofágicos) das habitações. Atualmente, os métodos mais sucedidos no controlo vectorial são a pulverização residual intra-domiciliar (PIDOM) e as redes mosquiteiras tratadas com insecticidas de longa duração (REMILD), que têm como alvo principal os vectores endofágicos. No entanto, as espécies que picam no exterior (exófagicas) têm sido as mais difíceis de controlar e, atualmente, não existem métodos satisfatórios para o controlo de populações destes vectores. A transmissão da malária feita por vectores exofágicos é comum fora de África; contudo, o fenómeno vem, progressivamente, ganhando importância também no continente Africano. Daí que, para que os vectores exofágicos sejam controlados de forma efetiva, é necessário entender melhor como ou porquê alguns vectores preferem procurar refeições sanguíneas em ambientes fechados, enquanto os outros evitam entrar em tais compartimentos? Ou seja, como é que um vector localiza e reconhece um ambiente fechado (ou intra-domiciliar) ou aberto (extra-domiciliar)? Com vista a obter respostas à tais questões, varias experiências de campo foram realizadas na aldeia de Massavasse, localizada na região leste do distrito de Chóckwè, província de Gaza, sul de Moçambique. As experiências assentaram-se em dois objetivos principais: 1. Projetar, construir e avaliar a performance de uma armadilha de grelha elétrica, apelidada de armadilha Shock-wè (SHK-wè), que poderá ser utilizada como uma alternativa fiável às colheitas com isca humana, na amostragem de vectores da malária que procuram um hospedeiro humano em ambientes interiores ou exteriores. 2. Determinar a contribuição dos elementos estruturais básicos que compõe uma habitação (ou seja, tecto, paredes, pilares, etc.) para a ocorrência e entrada de mosquitos que procuram uma refeição sanguínea em casas experimentais. Para cumprir o primeiro objectivo, foram feitas colheitas emparelhadas de mosquitos através de armadilhas SHK-wè e colheitas com isca humana (CIH) durante 35 noites consecutivas. Os resultados indicam que a SHK-wè é uma ferramenta segura e fiável para a amostragem e vigilância das populações de vetores importantes da malária em África. SHK-wè mostrou um bom desempenho tanto no interior como no exterior e, portanto, é potencialmente um substituto prático, robusto e seguro para as capturas CIH convencionais. Para cumprir o segundo objetivo, foram igualmente utilizadas armadilhas SHK-wè numa série de experiências de tratamentos randomizados para determinar a resposta das populações de mosquitos locais à presença de componentes estruturais de uma casa experimental construída para o efeito. A experiência foi realizada durante 50 noites consecutivas e constituiu em montagens e desmontagens aleatórias da casa experimental nos seus elementos básicos (isto é, o suporte de metal, paredes inferiores e superiores e o tecto). Os resultados desta experiência sugerem que, contrariamente ao que se conhecia, o tecto da casa é um componente chave para o reconhecimento e entrada dos vectores endofágicos do complexo A. gambiae s.l em ambientes intra-domiciliares. Os dados indicaram que a probabilidade de A. gambiae s.l. entrar numa casa experimental aumenta 4.5 vezes [IRR = 1.50 (0.63 – 2.37; p = 0.001) quando o tecto está presente em comparação com outros tipos de tratamentos
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