Summary: | A crise climática mundial obriga à implementação de medidas de redução das emissões de gases com efeito de estufa (GEE). A meta da neutralidade climática para a União Europeia, estabelecida pelo Pacto Ecológico Europeu, exige atuação em todos os setores. Em Portugal, o setor dos transportes é responsável por um quarto das emissões nacionais de GEE, nomeadamente fruto da utilização exagerada do modo rodoviário. O transporte individual é responsável por 88% dos passageiros-km transportados; enquanto a ferrovia pesada, uma opção recomendada pela literatura e pela prática internacional para os grandes volumes de tráfego e as longas distâncias, satisfaz apenas 4% da procura. Assim, é urgente realizar alterações profundas na forma como a população portuguesa se desloca, quer nas deslocações diárias casa-trabalho, quer nas deslocações de longa distância. O objetivo desta dissertação de mestrado é o estudo do desempenho de um novo conceito de horário integral, que conjuga todos os serviços ferroviários de passageiros de longo curso, e a sua comparação com o sistema atualmente existente. O estudo baseou-se na análise da matriz origem-destino do serviço ferroviário de longo curso atual, nas respostas do inquérito feito à população, e na comparação com boas práticas internacionais. O atual serviço ferroviário de passageiros de longo curso apresenta características inadequadas. A fraca procura demonstrada por este serviço é influenciada pelo fraco desempenho do sistema ferroviário, evidenciado por indicadores como a frequência diária de comboios, o número e duração dos transbordos, a falta de abrangência territorial e a irregularidade dos horários. O novo modelo de ordenamento do serviço ferroviário de passageiros de longo curso, estudado nesta dissertação, pode trazer as melhorias necessárias, tornando o serviço ferroviário uma opção de transporte público competitiva com os modos hoje mais procurados. O modelo examinado propõe horários cadenciados, em linha com a melhor prática internacional, e cria condições para a coesão territorial através de uma cobertura mais abrangente, fechando malhas de rede e melhorando a qualidade do serviço. Estima-se que a configuração agora proposta permita aumentar 2,7 vezes a procura do serviço ferroviário de passageiros de longo curso em Portugal. Isto permitirá a redução direta das emissões de GEE em 55 kt CO2 eq/ano, e um efeito indireto importante de promoção da tão necessária intermodalidade.
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