Resumo: | Os arrojamentos em Portugal continental encontram-se documentados desde o século XII. A partir de 1977, com a implementação de uma rede nacional de arrojamentos, os registos passaram a ser recolhidos de forma sistemática. Os registos arrojamentos em Portugal e no mundo fornecem importantes dados de longo termo para o conhecimento de processos ecológicos que ocorrem a grande escala e que eventualmente possam estar a afectar as populações de cetáceos. Este estudo tem como objectivo a caracterização temporal, sazonal e espacial dos arrojamentos entre 1979 e 2009. Com base nestes dados efectuou-se uma abordagem da distribuição temporal e sazonal dos arrojamentos e da temperatura da superfície da água. Na análise efectuada ao período temporal em estudo, foram registados 3522 arrojamentos de cetáceos constituídos por 21 espécies diferentes. A espécie mais frequente foi o golfinho-comum (Delphinus delphis) com 46,51% do total de registos, seguindo-se do boto (Phocoena phocoena) com 7,13%, o golfinho-riscado (Stenella coeruleoalba) com 4,66%, o golfinho-roaz (Tursiops truncatus) com 4,37% e a baleia anã (Balaenoptera acutorostrata) com 2,41% na costa continental portuguesa. Do total de registos, 3,5% dos arrojamentos foram capturas comprovadas,19,3% apresentaram indícios de capturas acidentais e 77,2% sem indícios. O número de arrojamentos aumentou anualmente, provavelmente reflectindo um aumento no esforço da recolha de registos. Foram efectuadas considerações sobre um possível esforço de amostragem, referindo o número de instituições envolvidas na recolha de registos ao longo do tempo. O maior número de arrojamentos foi registado nas áreas Norte, Centro-Norte e Centro. Considerando a variação sazonal da temperatura e os arrojamentos verificou-se nas áreas Norte e Centro entre 1995 e 2009 que estes ocorrem com maior frequência quando as temperaturas da superfície da água são mais baixas. A distribuição temporal da temperatura entre 1982 e 2009 e dos arrojamentos entre 1979 e 2009 por área mostra em ambos os casos uma tendência geral de aumento ao longo da série temporal. Neste estudo, coloca-se a hipótese de que os arrojamentos possam responder desfasadamente às variações máxima e mínima da temperatura da superfície da água.
|