Summary: | Com a expansão em grande escala da produção industrial, as concentrações de CO2 atmosféricas têm vindo a aumentar sendo expetável, que para o ano 2100, atinjam valores superiores a 1000 ppm. Esta elevada concentração de CO2 atmosférico poderá levar a um decréscimo do pH e aumento da temperatura oceânica, prevendo-se que no final deste século o pH dos oceanos decresça até 0,5 unidades e a temperatura aumente entre 1,8 – 4,0 ºC. Estima-se que estas alterações afetem sobretudo as zonas intertidais, tornando-se essenciais estudos que permitam observar como os organismos destes habitats irão responder a tais alterações, nomeadamente o Palaemon elegans. O seu amplo nicho ecológico e a recente expansão ao longo da Europa, tornam esta espécie num elemento bastante importante para a fauna marinha europeia. O objetivo do presente estudo consistiu em avaliar os efeitos da exposição a diferentes níveis de pH (controlo: 8,10; 2100: 7,80) e temperatura (controlo: 18ºC; 2100: 22ºC) previstos pelo IPCC (2014) para 2100 (RCP8.5) nos parâmetros populacionais (sobrevivência, variação da biomassa, taxa de crescimento específica, fator de condição e eventos de muda) e na composição bioquímica (proteína, gordura total e perfil de ácidos gordos) de juvenis P. elegans. Após a captura de juvenis selvagens estes foram expostos durante 65 dias a quatro cenários: 1 - o cenário ambiental (CA) com temperatura e pH do ambiente marinho atual (pH:8,10; Temperatura: 18ºC); 2 - a alteração de pH (ApH) com pH reduzido (pH:7,80; Temperatura: 18ºC), simulando a acidificação dos oceanos (AO); 3 - alteração de temperatura (Atemp) com temperatura elevada (pH:8,10; Temperatura: 22ºC), simulando o aquecimento superficial dos oceanos e 4 - a interação da alteração de pH e temperatura (ApH*Atemp), com pH reduzido e temperatura elevada (pH: 7,80; Temperatura: 22ºC). Os resultados obtidos nos parâmetros de crescimento, nomeadamente na variação de biomassa, taxa de crescimento específico e incremento de peso diário, sugerem que o cenário ApH*Atemp teve um impacto negativo nos juvenis P. elegans. Ao nível do fator de condição e eventos de muda, os organismos nos cenários Atemp e ApH*Atemp apresentaram valores significativamente mais baixos em relação ao grupo controlo CA. Nos parâmetros bioquímicos, os organismos no cenário Atemp e ApH*Atemp apresentaram valores de proteína significativamente menores em relação ao grupo CA. Foi observada uma elevada correlação entre os níveis de ácidos gordos e o cenário ApH. Nesse cenário os juvenis P. elegans apresentaram os valores mais elevados de ácidos gordos saturados (SFA), monoinsaturados (MUFA) e polinsaturados (PUFA), contrastando com os organismos no cenário Atemp, onde se registaram os valores mais baixos destes compostos. O presente estudo sugere que os juvenis P. elegans poderão ser afetados pelas alterações de pH e temperatura previstas para 2100, nomeadamente ao nível do crescimento. Ao nível bioquímico os resultados obtidos sugerem que as alterações de temperatura poderão ter um impacto maior no comportamento destes organismos, nomeadamente na síntese de proteínas, do que as alterações de pH. Para além dos aspetos relacionados com as alterações climáticas, a exposição destes organismos aos níveis de pH previstos para 2100 pareceu trazer vantagens ao nível da produção em aquacultura, uma vez que levaram os juvenis P. elegans a produzir maior quantidade de ácidos gordos essenciais, nomeadamente n-3 e n-6 altamente importantes para a saúde humana. Em adição, foi também possível tirar ilações de como este organismo se poderá comportar em ambientes de cultivo, sendo deste modo um ponto de partida para a proteção desta espécie em ambiente selvagem e possível produção em aquacultura para fins alimentares e de repovoamento.
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