Quinta da Graça: dos eremitas aos atletas

Com o objetivo de criar um polo do curso de dança da Faculdade de Motricidade Humana na Quinta da Graça, realizou-se uma análise histórica do Vale do Jamor que remonta ao século XVI, com as primeiras ocupações feitas pelas instalações conventuais, como o Convento de Santa Catarina, da Boa viagem e m...

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Detalhes bibliográficos
Autor principal: Grácio, Gonçalo Filipe Martins Morujo (author)
Formato: masterThesis
Idioma:por
Publicado em: 2021
Assuntos:
Texto completo:http://hdl.handle.net/10071/21888
País:Portugal
Oai:oai:repositorio.iscte-iul.pt:10071/21888
Descrição
Resumo:Com o objetivo de criar um polo do curso de dança da Faculdade de Motricidade Humana na Quinta da Graça, realizou-se uma análise histórica do Vale do Jamor que remonta ao século XVI, com as primeiras ocupações feitas pelas instalações conventuais, como o Convento de Santa Catarina, da Boa viagem e mais tarde o Convento da Graça. Este último, após a extinção das ordens religiosas em 1834 foi adquirido por José Manuel Machado que nos seus resquícios edifica a Quinta da Graça, correspondendo a uma época em que surgem as primeiras quintas de recreio ao longo do vale, atribuindo-lhe um carácter de veraneio associado também à exploração agrícola. Nos anos 30 do século passado, o Estado Novo expropria diversas propriedades ao longo do vale, incluindo a Quinta da Graça, para levar a cabo a construção do Estádio Nacional, o que implicou a demolição da maior parte das quintas. A presença dos vários resquícios revelam as vicissitudes do vale, conferindo-lhe uma atmosfera fortemente marcada por estas fases - instalações conventuais; quintas de recreio; complexo desportivo. No decorrer do século passado, a Quinta da Graça foi sucessivamente descaracterizada e deturpada para dar continuidade ao crescimento do Complexo Desportivo do Jamor, não só na sua envolvente como também no interior do palácio, onde ocorreu um incêndio em 1993 que o transformou em ruína. Convocaram-se autores que na sua obra manifestaram posições relativamente às políticas e aos conceitos de conservação. Com opiniões antagónicas entre si, uns defendem um lado mais conservador e nostálgico manifestando-se numa vertente mais romântica, enquanto que outros apoiam uma forma despojada e racionalista, voltada para um desenvolvimento linear do progresso. Surgem as figuras de John Ruskin que considera que um edifício é intocável, sendo preferível manter uma ruína do que tentar restaurála e de Viollet-le-Duc, que defende que se deve compreender a linguagem a que o edifício pertence, o seu momento histórico e a sua época, para que se consiga restituir o seu estado original. Também se convocaram diversos autores que ao longo dos séculos basearam a sua obra no tema da ruína, como Giovanni Battista Piranesi, Eduardo Souto de Moura, Erik Gunnar Asplund e Alvar Aalto. Em articulação com o estudo teórico realizado, fez-se uma viagem, sobretudo pelo norte de Portugal, onde se analisaram obras cuja temática ia ao encontro do projeto na Quinta da Graça: uma intervenção numa pré-existência que agora entra em diálogo com um corpo contemporâneo. Visitaram-se projetos como o Mosteiro de Flor da Rosa, a Herdade de Torre de Palma, as Ruínas Romanas de São Pedro do Sul, o Museu Abade Pedrosa, o Mosteiro de Santa Marinha da Costa, o Mosteiro de Santa Maria do Bouro, a Escola Agrária de Ponte de Lima, a ruína no Gerês e o Vidago Palace. Através desta viagem foi possível comprovar a importância da contaminação entre o estudo teórico e a prática de arquitetura, revelando-se neste ensaio no formato de um diário composto por fotografias, desenhos e texto. O projeto desenvolvido na Quinta da Graça aglutina todo o conhecimento adquirido, manifestandose em diversas decisões de projeto. A proposta procura responder às necessidades dos alunos do curso de dança, dotando a faculdade de condições necessárias à sua prática. Para isto dividiu-se o projeto em duas partes - uma intervenção no edifício da quinta onde se inserem os estúdios e os espaços que são mais privados e num edifício novo, os espaços sociais, compostos por uma sala de estudo e por uma sala de convívio. O projeto passou também por uma intervenção na envolvente da quinta, onde foi criado um anfiteatro, uma cafetaria, umas instalações sanitárias bem como um arranjo na arborização em seu redor. Por uma das maiores problemáticas levantadas pelos alunos se tratar da dificuldade de acessos entre a faculdade e o Jamor, que para quem faz frequentemente esta transição imposta pelas aulas nas infra-estruturas do complexo desportivo se torna uma dificuldade, são criados vários percursos que estabelecem a diferença de cotas. Estes percursos relacionam-se com o programa proposto e resolvem diversas dissonâncias na envolvente da quinta.