Summary: | A hemocromatose hereditária (HH) associada ao gene HFE, dado ser uma doença autossómica recessiva com penetrância incompleta, deve obedecer a uma estratégia de análise molecular que compreenda, em primeiro lugar, a pesquisa das alterações moleculares que ocorrem mais frequentemente no referido gene (p.H63D e p.C282Y). Deve dar-se prioridade à pesquisa da alteração p.C282Y já que esta, quando presente em homozigotia, não havendo outros fatores de risco associados, permite confirmar a doença em indivíduos com fenótipo clínico sugestivo de HH e/ou apresentam biomarcadores séricos indicadores de sobrecarga em ferro, nomeadamente saturação da transferrina e ferritina elevadas. Neste trabalho, o estudo molecular de 1838 doentes com parâmetros clínicos e/ou bioquímicos relacionados com HH, revelou a presença de homozigotia para a alteração p.C282Y em 4% dos indivíduos analisados, valor muito acima do estimado para a população em geral (~0,09%) enquanto que a homozigotia para p.H63D foi de 7,9%, o qual corresponde a duas vezes o valor previsto para a população em geral (~4%). Ou seja, estes resultados, sustentam que a referida pesquisa, antecedida de aconselhamento genético, deverá ser realizada para confirmar (em indivíduos com índices bioquímicos de sobrecarga em ferro) a suspeita de HH. O diagnóstico molecular antecedido da ocorrência dos sintomas graves da HH, permite antecipar a vigilância clínica, prevenindo a progressão da doença para as manifestações mais graves que incluem, por exemplo, cirrose e carcinoma hepatocelular. Complementarmente, valoriza-se também a importância da participação dos laboratórios em ensaios de avaliação externa da qualidade, o que permite melhorar o desempenho dos mesmos no âmbito da genotipagem, interpretação de resultados e qualidade dos relatórios.
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