Summary: | O sentido do conceito de curríc ulo encontra múltiplos significados, como se pode inferir da análise de diversos autores neste campo. Esta questão é especialmente pertinente no que diz respeito à educação préescolar, nível de educação em que se verifica uma certa tensão entre o contributo da teorização das Ciências da Educação e a necessidade de levar em consideração outros aspectos pragmáticos relativos ao atendimento das crianças enquanto os pais trabalham. Face à ambiguidade que acompanha esta duplicidade de preocupações, procura-se com esta investigação contribuir para a clarificação da relevância, natureza e implicações do que se entende por currículo nesta primeira etapa da educação ao longo da vida, tal como é entendida e apropriada pelos profissionais. Assim, é objecto do presente trabalho estudar o currículo no jardim de infância centrado nas concepções e práticas de três educadoras de infância. A nossa reflexão é uma tentativa de compreensão da representação dos profissionais da educação pré-escolar quanto à construção e gestão do currículo, pretendendo-se aceder a relações que se possam estabelecer (ou não) entre juízos, hierarquias de valores e saberes de que são depositárias as educadoras em questão e as suas práticas reais. Valerá a pena referir que a análise das concepções e práticas das educadoras de infância foi realizada em referência a contributos teóricos vindos principalmente da Teoria do Desenvolvimento Curricular, da História da Educação, das Teorias da Formação de Professores e da Sociologia da Educação. Para a pesquisa desenvolvida, optou-se por uma abordagem qualitativa, de cariz interpretativo, que incorporasse a experiência das participantes, as suas práticas, crenças, sentimentos e percepções como enfoque privilegiado da investigação e interpretação. foram utilizados como instrumentos privilegiados as entrevistas semi-estruturadas e observação das práticas em sala de actividades. Neste estudo verificou-se que as práticas curriculares das educadoras de infância não são monolíticas, constituindo antes um domínio aberto que não apresenta normas de forma muito precisas e que, nessa medida, se pode falar de uma profissão criativa que está muito entregue à expressão de cada educadora de infância. No que diz respeito às suas funções sublinha-se o facto destas serem entendidas para além da dicotomia entre cuidar (care) e educação (education), abrangendo também dimensões de ordem ética e relacional. Nas práticas das educadoras pode ser encontrado um paralelismo com o conceito de bricolage utilizado por Hatton (1988, concebido por Lévi-Strauss, 1974), na medida em que as educadoras recorrem sobretudo ao exemplo de outros, ao seu julgamento subjectivo, a um estilo orientado por preocupações pragmáticas que servirão os seus propósitos, mais do que a teorias pedagógicas; ou seja, os seus critérios de decisão são mais pragmáticos do que informados por visões teóricas do seu trabalho. Os resultados permitem sublinhar que ainda persiste um entendimento restrito do conceito de avaliação, não surgindo referências explícitas dessa avaliação extensivas ao projecto educativo, espaços, materiais, experiências e actuação das próprias docentes. O jogo é destacado como actividade por excelência no J.I., mas surge matizado para simplificar procedimentos pedagógicos variados inseridos num "ofício de aluno". O debate sobre a função do jogo e da brincadeira nas instituições destinadas a crianças entre os três e os seis anos continua em aberto neste estudo, sendo de sublinhar as dissonâncias conceptuais quer entre adultos, quer entre adultos e crianças.
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