Summary: | A Perturbação do Espetro do Autismo (PEA) constitui um grupo de condições neuropsiquiátricas caracterizadas por dificuldades na interação e comunicação social, dificuldades de adaptação a mudanças inesperadas, juntamente com comportamentos repetitivos, sendo o seu diagnóstico baseado nos critérios presentes nos manuais de diagnóstico, como o DSM-V (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders). Estudos demonstram que os fatores genéticos contribuem claramente para a etiologia das PEA’s, e na última década foram feitos progressos significativos na sua identificação e caracterização. Em particular, a análise das variantes estruturais designadas Copy Number Variants (CNV’s), que causam deleções e duplicações de regiões cromossómicas e genes, ou parte deles, mostrou a sua importância numa fração substancial de casos de autismo. O principal objetivo deste trabalho foi realizar a caracterização genótipo-fenótipo de crianças com autismo, através da identificação de CNV´s patogénicas e loci de suscetibilidade para o autismo. Para isso, foi feita a análise das alterações genéticas presentes numa coorte de 369 doentes, identificadas pela técnica de Array Comparative Genome Hybridization (aCGH), sendo identificados os seus pontos de quebra, analisados os genes candidatos presentes e estabelecida uma relação entre o fenótipo clínico e os genes duplicados ou deletados. Os resultados revelaram uma grande percentagem de alterações cromossómicas benignas, comuns na população, sendo que apenas algumas regiões foram consideradas potencialmente patogénicas. Apenas a região 16p11.2 foi considerada patogénica. Da relação do fenótipo com os genes afetados pelas CNV’s potencialmente patogénicas, verificou-se que a maioria está associada com o mecanismo de transmissão sináptica ou com o desenvolvimento e plasticidade neuronais, como os genes PCDH15, CHRNA7, TBX6, MAZ, KCTD13, IMMP2L, entre outros. Considerando todas as alterações cromossómicas identificadas na coorte, foram encontradas algumas regiões cromossómicas que estavam frequentemente alteradas em conjunto, o que poderá ser sugestivo do potencial papel da combinação destas alterações na suscetibilidade ao autismo. Por fim, a análise dos pontos de quebra revelou a presença de alguns elementos repetitivos, nomeadamente LINES, SINES, LTR/ERVL e DNA/hAT, que podem estar na origem de algumas alterações identificadas na coorte. Assim, este trabalho permitiu, de uma forma robusta, a caracterização genómica de uma coorte com PEA, contribuindo para a identificação de possíveis novos biomarcadores de doença. Futuros estudos são fundamentais para comprovar estes resultados bem como para identificar novos genes associados às PEA’s e compreender os mecanismos moleculares envolvidos nesta patologia. O crescente desenvolvimento das técnicas de sequenciação encerra grandes promessas para a descoberta de novos alvos terapêuticos, bem como para o desenvolvimento de um teste genético para o diagnóstico molecular de autismo.
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