Summary: | A costa Noroeste portuguesa caracteriza-se por uma elevada fragilidade geomorfológica, onde dominam os processos erosivos, associados à pressão antrópica sobre o litoral, ao clima de agitação marítima altamente energético e à diminuição do aporte sedimentar ao litoral. Estes aspectos tornam fundamental uma monitorização regular da zona costeira, com identificação dos locais mais sensíveis à erosão, e uma gestão do litoral mais eficiente. Neste estudo, pretendeu-se analisar a variabilidade morfológica da praia emersa e submersa, no troço litoral entre a Barra e a Praia de Mira (a sul do porto de Aveiro), a partir de modelos digitais do terreno e de balanços sedimentares e compreender o seu comportamento face a intervenções antrópicas ou ao clima de agitação marítima. A metodologia implementada utilizou dados topográficos e batimétricos adquiridos em campanhas de monitorização realizadas entre 2003 e 2014 e dados topo-batimétricos cedidos pela Administração do Porto de Aveiro, S.A.. Na caracterização do clima de agitação marítima usaram-se dados da bóia ondógrafo de Leixões e dados simulados para um ponto próximo da bóia. A série simulada foi validada para preencher as lacunas existentes nos dados da bóia e, assim, obter uma série contínua de informação. O clima de agitação marítima observado caracteriza-se por ondulação de NW e alturas de onda significativa típicas entre 1 a 2 m (45 %). A ondulação em clima de temporal, ou seja, com alturas superiores a 4.34 m, é predominantemente de NW e WNW e ocorrem, em média, 15.30 eventos por ano. A análise da variabilidade morfológica da praia emersa foi efectuada para duas escalas temporais, evolução ao longo da última década (2003 – 2013) e evolução recente (Outubro de 2013 a Abril de 2014). Na praia emersa observou-se que, para o período de Outubro de 2013 a Abril de 2014, a perda de 0:93 106 m3 de sedimentos corresponde a cerca de 76 % do volume perdido no período entre 2003 e 2013, que foi de 1:22 106 m3. Na análise da praia imersa registou-se a presença de barras submersas, não contínuas, com dimensões entre 0.60 e 2.60 m de altura e 125 a 230 m de largura e o crescimento das barras de desembocadura, junto ao canal de acesso à laguna de Aveiro, de 2009 para 2012. O balanço sedimentar para a praia submersa foi positivo nos sectores analisados. O estudo permitiu, ainda, obter uma caracterização mais detalhada do comportamento morfodinâmico da zona e da vulnerabilidade à acção de temporais e à presença de estruturas de protecção costeiras. Os dados obtidos podem ser considerados como um contributo para a gestão e ordenamento do litoral, tendo em conta que todo o troço é de exposição elevada a muito elevada aos processos que provocam erosão costeira.
|