| Summary: | O presente estudo parte do pressuposto de que o mundo que nos rodeia pode ser entendido ontologicamente como representação, e uma das representações possíveis é a representação audiovisual. Neste contexto, equaciona-se a emergência de um texto, o guião, como representação primeira, escrita, de uma representação outra, audiovisual. Apesar dos diferentes pontos de vista sobre a necessidade do guião no processo de criação audiovisual consideramos a sua presença e importância incontornáveis. Ao longo da análise descreve-se o universo de questões que, historicamente, caracterizaram a abordagem do guionismo, enquanto prática ancorada no fenómeno da comunicação humana; o guião e a sua ontologia textual e o guionista enquanto autor; associando a esta descrição a discussão sobre as perspectivas críticas mais recentes, principalmente o conceito de screen idea avançado por Ian W. Macdonald (2013). O nosso corpus assenta em cinco narrativas audiovisuais, que têm como elementos estruturantes o processo de criação, o guionismo e a literatura. Através de uma perspectiva multidisciplinar, procuramos compreender, a nível teórico, as ligações que podemos estabelecer entre criação, memória, sentidos e representação, e simultaneamente tecer os vínculos possíveis entre estes conceitos e o guionismo enquanto prática, destacando as qualidades cinemáticas do guião e a sua ligação com uma circunstância concreta de criação. É nosso objectivo identificar aquilo que operativamente deve possuir o guião para ser lido e pensado enquanto filme. Com a nossa pesquisa pretendemos contribuir para a investigação do guionismo enquanto prática criativa e cultural: (1) destacando, quer o papel do guionista no processo de criação, através da análise da sua presença no corpus fílmico seleccionado, (2) quer enquanto prática de criação que se caracteriza por um continuum de aproximação a uma performance audiovisual, (3) por último, procuramos contribuir, para um trabalho mais sistemático, em Portugal, sobre o guião, de forma a proporcionar-lhe um espaço epistemológico próprio.
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