Resumo: | As organizações culturais vivem um período de mudança fruto da recente crise financeira, o que as leva a equacionar o seu desempenho organizacional. Com efeito, a diminuição do financiamento público fá-las pugnar pela definição de uma Estratégia, que se traduz, por um lado, em Gestão Cultural, e por outro, em Empreendedorismo Cultural. Ao mesmo tempo, as performances intraempreendedoras dos colaboradores têm também um papel muito relevante na melhoria do desempenho da organização. Neste contexto, é oportuno propor um modelo de gestão de equipamentos culturais que conjugue Gestão Cultural, Empreendedorismo Cultural e Intraempreendedorismo Cultural com vista à melhoria do desempenho organizacional e, consequentemente, à criação de valor. Assim, este modelo visa identificar a forma como as variáveis Gestão Cultural, Empreendedorismo Cultural e Intraempreendedorismo Cultural concorrem para a promoção do Empreendedorismo Estratégico nas organizações culturais e como o Empreendedorismo Estratégico (concetualizado nessas três variáveis) se constitui um fator para melhorar o seu desempenho organizacional e criar valor. Deste modo, são cinco as questões de investigação a que se pretendeu dar resposta: - De que forma a Gestão Cultural, o Empreendedorismo Cultural e o Intraempreendedorismo Cultural contribuem para a promoção do Empreendedorismo Estratégico nas organizações culturais? - De que forma a Gestão Cultural contribui para melhorar o desempenho organizacional? - De que forma o Empreendedorismo Cultural contribui para melhorar o desempenho organizacional? - De que forma é que o Intraempreendedorismo Cultural contribui para melhorar o desempenho organizacional? - De que forma a melhoria do desempenho organizacional contribui para a criação de valor? No sentido de se confirmar este modelo, procedeu-se a um estudo empírico com recurso ao método de estudo de caso suportado por uma metodologia mista (isto é, simultaneamente qualitativa e quantitativa). O caso escolhido foi a Casa da Música. A metodologia qualitativa baseou-se na elaboração de entrevistas em profundidade junto dos diretores e gestores de topo e dos fundadores e mecenas e na realização de grupos focais com públicos com e sem experiência em gestão de organizações culturais. A metodologia quantitativa partiu da aplicação de um inquérito aos colaboradores e chefias intermédias deste equipamento cultural. As respostas às questões de investigação permitiram concluir que, especialmente em períodos de mudança, as organizações culturais que pretendam sobreviver deverão, sistematicamente, articular práticas de Gestão Cultural e de Empreendedorismo Cultural. Simultaneamente, deverão criar condições de trabalho para que os seus colaboradores sejam intraempreendedores culturais, isto é, sejam estimulados a agir de forma proativa na implementação de inovações no ambiente organizacional. Adicionalmente, a quase inexistência de estudos sobre desempenho de organizações culturais em Portugal, bem como de instrumentos quantitativos sobre Intraempreendedorismo Cultural que avaliem esse desempenho, tornam o presente trabalho de investigação inovador. Assim sendo, apresenta-se uma proposta de reestruturação do conceito de Empreendedorismo Estratégico que inclui uma articulação entre as variáveis de Gestão Cultural, Empreendedorismo Cultural e Intraempreendedorismo Cultural, uma análise simultânea do ambiente externo e interno, a introdução da melhoria do desempenho organizacional como consequência da implementação de Empreendedorismo Estratégico em organizações culturais e, por fim, a apresentação da criação de valor como consequência do desempenho organizacional. Deste modo, o próprio conceito de Gestão é repensado, propondo-se a Gestão Cultural e o Empreendedorismo Cultural como práticas quotidianas na administração de equipamentos culturais e a Cidadania Organizacional como elemento chave da Estratégia.
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