Summary: | O presente estudo propõe-se reflectir sobre o modo como a pictografia utilizada na moderna sinalética, longe de constituir (assim o apregoava o optimismo modernista dos anos 50 e 60) uma espécie de "linguagem universal", intuitiva e de reconhecimento imediato, antes apresenta, pelo contrário, enquanto forma de comunicação, algumas importantes limitações. Não só a pictografia sinalética, não tem um alcance universal - até porque historicamente situada, como qualquer outra linguagem, num contexto cultural preciso (neste caso o do Ocidente), mas a sua própria pretensão “universalista”, obrigando a um elevado grau de redundância na transmissão da mensagem, predispõe ao uso empobrecedor da caricatura e do estereótipo, como formas de comunicar. Acresce que as características do médium ou do processo representativo gráfico, espartilhado na tradicional dialéctica entre enfatismo e exclusão, são igualmente propensas à reprodução de estereótipos socioculturais, e.g. de género. Verifica-se ainda o uso sistemático do falso neutro, ou masculino genérico: a frequência de ocorrência de representações masculinas é muito superior às femininas, sendo aquelas utilizadas para ilustrar o conceito de “pessoas (usuários) em geral”. Esta área cada vez mais importante do design de comunicação, supostamente empenhada na procura de uma linguagem informativa neutra de alcance o mais universal possível, compreende assim uma componente ideológica, possivelmente inelutável mas que é importante compreender e documentar. Na primeira parte da presente tese são examinadas as origens históricas da sinalização e sinalética modernas, bem como os pressupostos teóricos que lhe estiveram/estão subjacentes; já na segunda parte, uma análise de conteúdo, quantitativa e qualitativa, a 49 programas de sinalética (perfazendo um total de 2 848 pictogramas e sinais) conclui da subrepresentação do elemento feminino, bem como do seu estatuto de forma "marcada", relativamente ao masculino.
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