Summary: | Ao escrever a História da Antiguidade da Cidade de Évora (1553), André de Resende deu inicio a uma tradição historiográfica que dava como certa a presença de Sertório em Évora, onde teria chegado a residir, e a sua responsabilidade na edificação da primeira cintura de muralhas da cidade, do templo e de um suposto aqueduto. Apesar de se basear numa frágil e muito empírica associação dos vestígios arquitectónicos romanos existentes na cidade com a arqueologia e a leitura de Plutarco, que refere a presença do general romano na Hispânia, essa tradição foi ciclicamente revisitada e revitalizada até à centúria de XIX, por autores como Diogo Mendes de Vasconcelos, Manuel Fialho, António Franco, Francisco da Fonseca e Augusto Filipes Simões. A sua longevidade explica-se pela maneira como as evidências materiais que presumivelmente a comprovavam, foram usadas para afirmar a antiguidade de Évora e a relevância do seu passado, que antecipava o do próprio Reino e se confundia com a do Império Romano. Propomo-nos abordá-la porque é demonstrativa da perenidade da história e da cultura clássica enquanto paradigma de civilização e de como este paradigma foi passível de condicionar a interpretação que sucessivas épocas deram à arquitectura romana.
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