Summary: | Esta reflexão surge de um interesse mais amplo sobre o estudo dos processos socioculturais de inscrição de determinadas espacialidades urbanas no mapa social da cidade. Em específico, remete para um percurso pessoal de trabalho relacionado com um bairro lisboeta – Mouraria – iniciado nos anos 90, onde se tem refletido sobre os motivos socioculturais dos dilemas e conflitos simbólicos subjacentes ao processo de construção de imagens identitárias do bairro. Recentemente chama a atenção uma espécie de descoberta cultural deste bairro marcado por múltiplas dinâmicas e imagens ligadas à tradição, cultura popular, liminaridade e perigo, multiculturalidade e multietnicidade, historicidade e património, e onde as práticas sociais no espaço público urbano (EPU) têm particular influência na configuração dessas mesmas imagens. Atualmente contribui o Programa Ação Mouraria cuja “intervenção de maior visibilidade e indutora de novos comportamentos será a requalificação do espaço público”. Esta descoberta ecoa numa disputa, em esfera pública, por uma espécie de ordem imaginária do que afinal é o bairro, refletindo imagens trazidas pelos novos (e potenciais) moradores, associações, terceiro setor, comerciantes, empresários culturais, poder público, a mídia e vozes académicas dedicadas a estudar a presente transformação local. As vozes dos moradores nem sempre ressoam com o mesmo impacte. A partir de certas dinâmicas que sucedem nos EPU locais – com destaque para a Praça do Martim Moniz –, discute-se alguns aspectos da sustentação de determinados imaginários locais contemporâneos, enfatizando a importância em acompanhar os processos socio-espaciais a partir das práticas de uso e apropriação dos EPU e respectivos contra usos.
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