Summary: | O filósofo Alain Badiou diz-nos que o teatro é, por natureza, a arte comunitária — por isso, nele se inscreve, por excelência, a possibilidade e o desafio da emancipação colectiva. Esta comunicação discute o cinema como arte potencialmente comunitária que nos força a repensar o que é uma comunidade. José Augusto Mourão define uma comunidade, não como um grupo, mas como uma prática da interlocução entre indivíduos que transcende o individual. Partindo do conceito de comunidade inoperante de Jean-Luc Nancy, Thomas Stubblefield defende que a comunidade surge no cinema a partir do reconhecimento de uma experiência do eu e do outro como reflexos. Esta perspectiva passa ao largo das comunidades do cinema reais que fazem entrever o laço entre a comunidade e a liberdade pessoal descrita por Karl Marx e Friedrich Engels. Como Badiou nota, o cinema não requer espectadores, apenas uma sala que alberga um público que vê e ouve. São os críticos de cinema que criam espectadores. Sendo o cinema uma arte de massas, as comunidades a que dá origem têm-se formado historicamente a partir do trabalho crítico, sensível e intelectual, sobre os filmes. Stanley Cavell assinala que a procura da comunidade é a procura da razão. E, no fundo, a razão de ser da dimensão comunitária do cinema funda-se nos discursos dialogantes sobre as suas obras e nas razões que lhes dão forma.
|