Summary: | Os argumentos apresentados nos vídeos publicizados em diversos sites da Rede Mundial de Computadores, nos quais o Cônsul do Haiti no Brasil, George Samuel Antoine, e o Pastor americano Pat Robertson, dono do canal Christian Broadcasting Network, explicitam o preconceito contra os haitianos, descendentes de africanos na diáspora, a partir do terremoto ocorrido, recentemente, naquele país da América Central. Os argumentos são sustentados levando-se em conta a díade cultura/religião naquele país de predominância negra, onde o vodu, ritualística pertencente à polifonia da religiosidade de matriz africana em diversas culturas, foi considerada “negativa” e causadora das intempéries ocorridas. O texto pretende trabalhar as implicações no âmbito cultural, político, ético, existentes a partir dos discursos proferidos pelos dois homens públicos, cuja gênese encontra-se assentada nas concepções de mundo dos séculos XVII, XVIII, XIX, que deram origem ao mais perverso movimento de enquadramento e controle social que a História conheceu: a escravidão negra. O “olhar”, no interior do texto, permanece focado na realidade brasileira contemporânea onde o desenvolvimento das religiões negras tem recebido tanto do Estado, como da sociedade civil, duros golpes de intolerância a liberdade religiosa, os quais servem de estímulo para que as igrejas neopentecostais assumam a linha de frente na desqualificação da cultura negra no país, da qual a religião é seu componente intrínseco. A realidade presente nos obriga a formulação de uma análise do problema, que contribua com ações que venham dirimir ou minorar o atual quadro, dando relevância à conotação político/ideológica que o caso apresenta.
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