Summary: | O vidro veneziano foi alvo de fascínio por toda a Europa, ao ponto de começar a ser imitado, surgindo então o vidro façon-de-Venise, ou vidro feito à moda de Veneza. Neste trabalho serão apresentados os resultados de 21 fragmentos arqueológicos de vidro filigranado (um tipo de vidro veneziano ou façon-de-Venise de luxo) de um total de 45 fragmentos encontrados. Estes são datados dos séculos XVI e XVII e foram encontrados no Largo do Chafariz de Dentro, em Lisboa. A composição química dos fragmentos foi obtida pela técnica analítica LA-ICP-MS (espectrometria de massa por plasma acoplado indutivamente com ablação a laser) e μ-PIXE (emissão de raio-X induzido por partículas). A grande maioria dos vidros têm uma composição silicatada sodo-cálcica (Na2O entre 14 e 19 m/m%), à exceção de um fragmento de composição alcalina-mista (12 m/m% Na2O e 10 m/m% K2O). Para identificar a fase cristalina do opacificante do vidro branco usou-se espectroscopia de Raman. Identificou-se a presença de Fe(II), Fe (III), Co(II) e Mn(III) como responsáveis pelas tonalidades naturais do vidro incolor através da espectroscopia de absorvância de UV-Visível. Este estudo focou não só a vertente analítica, onde foram determinadas as composições das várias camadas constituintes dos fragmentos, como também a história, o método de produção, a perfeição técnica e as tonalidades naturais dos vidros, relacionando toda a informação de forma complementar. Após o estudo dos fragmentos é proposto que três destes sejam de origem genuína veneziana. Para os restantes fragmentos analisados que constituem 86% do conjunto, propõem-se que estes tenham sido produzidos num centro de produção façon-de-Venise ainda por descobrir e que não se relaciona com os centros de produção façon-de-Venise conhecidos ou centros que foram propostos para os vidros deste tipo encontrados em Portugal.
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