Resumo: | INTRODUÇÃO: O diagnóstico do cancro da mama é histológico e exige sempre a realização de biopsia. A microbiopsia tem sido reconhecida como um método alternativo à biopsia “aberta” na avaliação inicial de lesões mamárias. Múltiplos estudos vieram confirmar que o procedimento é rápido, seguro, preciso e económico. No entanto, os resultados falso-negativos poderão comprometer o diagnóstico definitivo. OBJECTIVO: Determinar a concordância histológica entre a microbiopsia e o diagnóstico definitivo de lesões da mama de forma a contribuir para melhorar a aplicabilidade daquela técnica. MATERIAL: Foram seleccionadas 100 doentes submetidas a microbiopsia ecoguiada de lesões da mama na Unidade de Ginecologia Oncológica do Departamento de Saúde da Criança e da Mulher (DSCM) do Centro Hospitalar Cova da Beira (CHCB), EPE, entre Janeiro de 2007 e Abril 2009. MÉTODOS: Estudo retrospectivo documental dos processos clínicos. Foram avaliados os seguintes parâmetros: idade ao diagnóstico, lateralidade, quadrante, diâmetro e classificação BI-RADS das lesões, exame clínico da mama, impressão clínica subjectiva do observador quanto à benignidade ou malignidade da lesão após exame clínico da mama, número de fragmentos feitos na microbiopsia, tipo de cirurgia e tipo histológico do tumor. Efectuou-se uma análise descritiva das variáveis e estudou-se o grau de associação entre estas e o diagnóstico definitivo, recorrendo-se ao teste do qui-quadrado de independência de Pearson. RESULTADOS: A idade média ao diagnóstico foi de 55,5 anos (desvio padrão 16,03 anos) e o diâmetro médio das lesões foi de 17,9 mm (desvio padrão 9,53mm). Na mama direita foram detectadas 50,9% das lesões, sendo o quadrante predominante o quadrante superior externo, acometido em 54,6%; 74,1% das lesões eram palpáveis tendo o observador impressão clínica de malignidade em 51,9% dos casos; 32,4% foram classificadas em BI-RADS III. Foram obtidos uma média 5,7 fragmentos. Em 17,6% dos casos, o material recolhido por microbiopsia foi insuficiente para o estudo histológico. Nos restantes casos, 46,3% das lesões foram malignas e 36,1% benignas. O diagnóstico definitivo maligno mais frequentemente encontrado foi o de Carcinoma Ductal Invasivo (38%) e o benigno foi o de Fibroadenoma (25%). Em 94 doentes, o diagnóstico definitivo foi obtido por excisão cirúrgica da lesão. Nestes casos, em 43 o diagnóstico foi de benignidade (45,7%) e em 51 de malignidade (54,3%). Foi encontrada associação estatisticamente significativa entre a insuficiência do material histológico e as seguintes variáveis: idade, BI-RADS, exame clínico e número de fragmentos. No grupo das doentes em que não houve material suficiente para um diagnóstico histológico o diagnóstico definitivo de benignidade foi observado em 89,5% dos casos e de malignidade em 10,5%. CONCLUSÃO: A microbiopsia das lesões da mama afigura-se um método útil para o diagnóstico definitivo das lesões da mama. Por vezes, o material obtido mostra-se insuficiente para diagnóstico histológico. O nosso estudo demonstrou que a idade inferior a 50 anos, o diagnóstico imagiológico de BI-RADS II e III, a presença de lesões não palpáveis e a obtenção de menos de 6 fragmentos no microbiopsia estão estatisticamente associados à obtenção de matéria insuficiente para a obtenção de um diagnóstico histológico. A valorização clínica destes factores pode melhorar a performance da microbiopsia mamária.
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