Summary: | Captada pelo prisma multifacetado da reflexão filosófica de Aristóteles, talvez a retórica não espelhe apenas a exigência de formatar o discurso em função de um ouvinte passivo para o convencer de uma verdade pré-determinada na sua rigidez argumentativa, como à partida se poderia supor, mas, antes de tudo, o singular desígnio de tornar maleável o ouvido humano à eficaz sedução do discurso. Ao moldar as condições que propiciam a persuasão, a retórica modela simultaneamente o mundo do ouvinte ou do leitor por ela e nela visados: a sua eficácia performativa não decorre apenas do efeito estilístico de um acto locucionário, mas também da força ontopoiética da linguagem, conferindo-lhe um alcance simultaneamente discursivo (pela realização da palavra comunicada) e prático (no texto da acção realizada). À luz dessa original apropriação aristotélica da retórica, importa indagar até que ponto a discreta contiguidade entre persuadir e confiar reclama a comparência de um paradigma ético incarnado no homem prudente, sob inspiração do qual o agir humano é desafiado a captar o justo-meio, a deliberar com razoabilidade e a decidir com acerto na indeterminada e contingente circunstancialidade de cada caso particular, facto singular ou acontecimento imprevisto.
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