Summary: | O dramaturgo Bernardo Santareno publicou, num curto espaço de tempo (1966-1967), duas peças esteticamente distintas, mas com uma característica em comum: a referência ao Holocausto. O Judeu e O Inferno, as primeiras após o hiato produtivo do autor, questionam a responsabilidade individual dos cidadãos do seu tempo, perante o horror infligido por instituições de poder e pelos próprios indivíduos em sociedade. Na primeira obra, com uma dimensão épico-didática mais acentuada, fá-lo através da parábola histórica; na segunda, aproximando-se mais claramente da estética do teatro documental. No que à denúncia do horror diz respeito, O Judeu e O Inferno integram inevitavelmente matérias que ocupavam os círculos intelectuais da Europa democrática dos anos 60, enquanto testemunhas da primeira vaga de mediatização do que viria a ser conhecido como Holocausto. A análise detalhada ao processo de criação destas duas obras permite escrutinar de que forma Bernardo Santareno funcionalizou os discursos em circulação sobre o Holocausto, para tentar evidenciar as injustiças políticas e sociais do seu tempo.
|